sábado, 8 de novembro de 2008

Hoje


Hoje nuvens cobriram toda e qualquer estrela
A chuva em meu corpo choveu lágrimas
O sangue em minhas veias parou
Meus versos chamaram
Estrofes choraram

Hoje sangue cobriu toda e qualquer certeza
Meus versos choveram lágrimas
Minhas estrelas pararam
A chuva chamou alto
Por minhas estrofes choradas

Mylena Perez

Ser ou não ser?


Não entendo nem tento
Não ter querendo, ter não querendo
Sentir não sentindo, viver não vivendo
Assino sem ler e sem saber aprendo
Ser ou não ser? Responder?
You might try to answer, eu nem tento

Mylena Perez

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Do amor

Amor, maldito e vil amor
Consola este coração por ti mesmo traído
Seca as lágrimas que fizestes brotar
Em meio à ilusão dos sentidos

Amor, vário e ingrato amor
Cicatriza as feridas de meu orgulho partido
Ouve o clamor de minh’alma abandonada
E não ignores a ajuda que a Ti tenho pedido

Amor, falso e cínico amor
Disseram-me que estendes a mão ao homem perdido
Só se estou cego e não a vejo
Em meio à dor do meu ego ofendido

Amor, ingrato e egoísta amor
Onde está o futuro que me tens prometido?
O tomastes para si, covarde
E dele todo este tempo tens vivido

Amor, tosco e imundo amor
Carrega esse asqueroso fardo contigo
Fardo de loucos, de apaixonados e de poetas
Que estou fadado a levar comigo

Amor, pernicioso e maligno amor
Que apagou de minh’alma o colorido
Não apague a luz da minha esperança
Cujos valores, destruir tens conseguido

Amor, grotesco e falho amor
Passa de mim esse cálice dolorido
Que forças não tenho nem para investir
Nem para consumar esse amor perdido

Amor, soberbo e altivo amor
Que dos homens tem se rido
Esquece desse pobre sofredor
Que os sentimentos tem reprimido



Amor, sombrio e violento amor
Que me acorrenta a lábios antes esquecidos
Encerra em meu peito ofegante o sagrado punhal
De beijos e toques não proferidos

Amor, enganoso e ilusório amor
Em tua pegajosa teia tenho caído
Preso em sensuais delírios me vejo
Por suas sedutoras artimanhas rendido

Amor, mórbido e macabro amor
Às tuas forças tenho sucumbido
Leva da vida esse corpo insepulto
De seus pecados e prazeres arrependido

Amor, sádico e cruel amor
Que a sórdidas lágrimas tem minha existência restringido
Rasga minha alma, nua, fragilizada
E despedaça para sempre esse coração sofrido

Amor, contraditório sentimento
Fizeste de refém meu coração
E agora te vejo doce, puro e santo
Apesar de tão doloroso tormento

Amor, simples e belo amor
Explique-me o que estou sentindo
Que vejo flores onde só há destruição
E o cinza da cidade vou colorindo

Amor, terno e doce amor
Que fazes tu comigo
Que me esqueço de toda dor
E inconseqüente te sigo?

Amor, honesto e sincero amor
Que parte tenho eu contigo
Que invades meu coração sem pedir
E te tornas amante e melhor amigo?

Amor, puro e santo amor
Que leis terei eu infringido?
Derrama sobre mim teu bálsamo dourado
E destrói a tristeza na qual tenho vivido

Amor, bendito e sábio amor
Que iluminas o chão onde piso
Volta a tocar meu pobre coração
E enche outra vez meus lábios de riso

Amor, querido e fiel amor
Comova-me com teus beijos e gemidos
Envolvam-me em teus sussurros lentos
E toques antes nunca sentidos

Amor, extremo e intenso amor
Em tuas asas perco os sentidos
E envolto no teu torpor
Perco-me em desejos proibidos

Amor, denso e ardente amor
Que recita poesias ao pé-do-ouvido
Conquistas-me dia a dia
Com teu romântico ruído

Amor, sensível e consolador amor
Afastaste todo ódio sentido
Tomaste meu coração para sempre
E o fizeste livre, rendido

Amor, completo e perfeito amor
Que a minha vida estejas sempre dirigindo
Pois como eu, és doce sendo amargo
E eterno sendo findo

Amor, vital e eterno amor
Que resume a vida a apenas um sorriso
Se somente as lágrimas invocam tua face
Choro, mas por Ti, pois és tudo que preciso


Mylena Perez

Martírio

O sangue, negro, pinga aos poucos da minha alma
Pois teu olhar é a espada que penetra meu peito
Enquanto meu corpo, podre, se decompõe em dor
A minha vida lentamente se esvai
Os golpes que me derrubam vêm da tua boca
E eu vou, pouco a pouco, me envenenando em teu suor
Em meus lábios pálidos ainda arranham teus beijos
Ásperos de ódio e mórbido prazer
Esquartejando toda e qualquer esperança
Torturando-me no eterno martírio que é te amar
Em meus olhos ainda correm memórias tuas
E como um forte vento ameaçador
Sopra a brisa de um suspiro teu
Que estremece meu corpo e arrepia meu espírito
Que vem com a fúria de uma tempestade
Fazendo cessar meu pesado fôlego
Fazendo-me em tua imagem naufragar
Mylena Perez

Acerto de Contas

Devo a Goethe minha melancolia
E a Bocage a sensualidade
A Platão minha obsessão por Sócrates
E a Leminski a criatividade

Devo a Kafka minha fantasia
E a Castro Alves a liberdade
A Vinicius de Morais meu amor pelo Rio
E a Quintana minha simplicidade

Devo a Álvares de Azevedo a nostalgia
E a Eça de Queirós a realidade
A Sheakspeare todo o meu sentimento
E a Frei Betto a imparcialidade

Devo a Cruz e Sousa minha sinestesia
E a Fernando pessoa minha multi-personalidade
Devo a outros autores tudo o que já escrevi
E a uma efêmera inspiração minha eternidade

Mylena Perez

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ela e eu


Ela que nunca nasceu
Ilesa se perdeu
Idéia nua, confusa
Ela, minha medusa

Eu impotente
Inspiração decadente
Ícaro morto, fervente
Eu inocente

Mylena Perez



domingo, 6 de abril de 2008

Pôr do sol

O sol começava a se pôr e a mulher esperava a hora de buscar os filhos na escola. Era um fim de tarde calmo e quieto, além disso, do décimo terceiro andar de um prédio −onde ela morava− não era mesmo possível ouvir os mínimos barulhos da cidade. O marido, sentado à mesa, lia pacientemente cada página do jornal do dia, e a mulher resolveu ir para perto da janela.
Talvez fosse algo particular daquele fim de tarde, ou talvez fosse apenas a sua imaginação, mas a mente da mulher começou a divagar, e aos poucos ela se distanciava cada vez mais do apartamento. A cidade parecia tão triste lá em baixo, o colorido se perdia em meio ao concreto. Os tons melancólicos de cinza reinavam soberanos, verde só havia mesmo na pintura de algumas casas. A fumaça dos carros tornava tudo denso e confuso.
Agora o sol de fato se punha e de repente um tom castanho-alaranjado invadiu o cenário. A cor refletiu nos alumínios das janelas e coloriu a fumaça. Pequenas casas brancas tornaram-se amarronzadas, feixes de sol dourado brilhavam nos carros. O verde das casinhas tornara-se mais intenso e agora contrastava fortemente com o vermelho dos aterros ao longe. O dourado do sol tornou-se vermelho, laranja, marrom e bem devagar se dispersou num azul celeste que acabava de surgir no horizonte. As cores vibrantes foram se suavizando e o sol se pôs totalmente. Um azul marinho tomava a cena quando subitamente a mulher foi jogada de volta à realidade pela grossa voz do marido que perguntava as horas.
Ao olhar de volta para a janela o melancólico cinza havia voltado, a fumaça embaçava o céu novamente e as cores eram mais uma vez reféns do concreto. A mulher olhou o relógio, já era tarde e a aula das crianças já havia terminado há algum tempo. Ela estava atrasada, pegou as chaves e saiu de casa. O marido achou estar frio e fechou a janela. Em que página do jornal ele estava mesmo?!

Mylena Perez

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Marcha Fúnebre

Desolado ele encostou-se no piano. Todos diziam que ele deveria esquecer aquilo, mas no seu coração tudo permanecia o mesmo. Já haviam se passado anos, mas seu coração parecia não aceitar que ela nunca mais voltaria. Ele conservou toda a casa intocada, do jeito que ela havia deixado ao sair. E era como se a casa e ele ainda esperassem que ela voltasse. As lágrimas grossas e pesadas teimavam em escorrer- lhe pelo rosto e as imagens e lembranças dela teimavam em passear pela casa. Parecia que a única coisa que não esperava a volta dela era o maldito tempo que insistia em passar e aos poucos separar cada vez mais a sombra da beleza que sua amada um dia tivera.
Por momentos a casa vazia parecia encher-se de risos e o doce som daquela finada alegria vinha perturbá-lo. Era como se tivesse sido tudo apenas um sonho triste, mas a realidade sempre o trazia de volta e o silencia sempre voltava. Os risos, os toques, os nomes, tudo se desmanchava noite adentro. E o silêncio triste, a agonia e a desolação sempre voltavam.
Como poderia esquecê-la? Como poderia? Como? Era como se ela fosse voltar a qualquer momento. Ela entraria saltitante pela porta, lhe daria um beijo, ajeitaria a flor branca presa aos cabelos e tudo voltaria ao normal. Mas ele a havia esperado tanto, tanto, ele já havia tentado fazer seu coração aceitar a verdade, mas somente a idéia de nunca mais vê-la, beijá-la ou tocá-la lhe parecia inconcebível.
Naquela tarde junto ao piano ele tocou, tocou como se ela estivesse lá.Como se estivesse sorridente a seu lado ouvindo a música. Ele tocou para ela, e de repente ela estava lá mais uma vez. Ele tocava feliz, e a melodia invadia seu coração, ao olhar no fundo de seus olhos negros ele compunha. Talvez ele não tenha percebido a mudança, talvez as lágrimas não tenham querido escorrer, mas acho que seu coração no meio daquela música aceitou o fato. E quase sem perceber a composição, antes tão alegre, foi se transformado numa marcha fúnebre e em meio a graves notas e lacrimosos sustenidos seu amada tornou-se fria e branca. Seus olhos perderam a vida, seu sorriso perdeu o significado e o vulto pálido que era antes tão nítido aos poucos desapareceu. E ao final da triste música já nada restara onde antes estava sua amada. Talvez ele tivesse apenas imaginado, talvez seus olhos, embaçados pelas lágrimas, o tivessem enganado, mas seu coração aceitou, ela não voltaria. Levantou-se do piano, abriu as cortinas e lavou o rosto. Esqueceu.


Mylena Perez

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Última poesia

Última poesia passeia em meus olhos fechados
Seus versos refletem luz do luar
Eu a perdi já faz muitos sonhos
E nunca mais pude suas estrofes formular

Ainda hoje me assombra
E é como se dela eu não pudesse me livrar
Noites de gritos, suspiros e frases
Ainda essa vã procura a me torturar

Lágrimas chovem sobre meu corpo nu
E é como se uma nuvem me acompanhasse
Enquanto corro pelas ruas da minha memória
Em busca apenas de uma lembrança relevante

Opiniões, pensamentos, nada parece real
Não há luz no fim do túnel, somente escuridão
Talvez seja a minha consciência (ou a falta dela)
Que imprima sonhos em minha insônia constante

Perco-me num beco escuro da minha mente
Uma lembrança me faz de refém
Um mistério, um eco, um tiro no escuro
O suicídio de uma mentira no silêncio se mantém

Uma folha branca se ilumina em sonho
Tinta! Terna poesia vem me acordar
Acordo do sono sem nunca ter dormido
Para uma última poesia terminar

Mylena Perez

Ela

Era tarde quando cheguei
Estrelas não brilhavam mais
A noite estava escura e fria
A chuva fina incomodava
Seu corpo meu coração acelerava
Seu sangue escorria em minhas lágrimas

Mylena Perez

Fúria

Que chova
Que caiam Raios
Que se revoltam mares
E que gritem crianças
Que morram velhos
E que tudo sejam perdidas esperanças
Que tudo fique assim
Que o destino jogue os dados
Que gritem crianças, e que gritem alto
Que fique tudo escuro então
Mas que eu não acorde
Que não seja o pesadelo mais sonho que a dura realidade
Que doa ainda mais nos homens que sua própria perversidade
Que chova. Que chova sangue
E que chova sobre o mundo, que jorre do mundo
E que seja destruída aos poucos a humanidade
Quero mesmo é que seja consumida em sua eterna iniqüidade

Mylena Perez

domingo, 23 de março de 2008

Toca em mim

Toca em mim Senhor, toca de novo
Como o Cego em Betsaida, renova a minha visão
Toca em mim Senhor, toca de novo
Vem Espírito santo
E sonda meu coração

Porque tudo o que sou, eu devo a Ti Senhor
Porque tudo o que eu tenho a Ti pertence
Eu Lhe devo a minha vida
Pois das Trevas me salvou
E livrou-me do jugo do pecado

Toca em mim Senhor, toca de novo
Como o Cego em Betsaida, renova a minha visão
Toca em mim Senhor, toca de novo
Vem Espírito santo
E sonda meu coração

Eu quero ser usado com tudo o que sou
E através da minha vida exaltar o Teu nome
Pois Teu precioso sangue as minhas vestes lavou
Quero Te adorar de todo o meu coração

Toca em mim Senhor, toca de novo...

Mylena Perez

Sentimentos Escondidos

Tanto fiz questão de escondê-los
Que quase os esqueci
Entrego-lhe os malditos agora
Insólitos sentimentos apodrecidos

Como ácido me corroeram
E pouco a pouco me devoraram
Agonia de lágrimas secas, gritos mudos
Madrugadas de Frases inacabadas

Beijos nunca dados perseguiam-me em sonhos
Amores insepultos de uma mente putrefata
Decompondo-me ainda em vida, assim eu me encontrava
Sentimentos sanguessugas da minha vida se alimentavam

Por toda minha existência, em meu mórbido peito cerrados
Encontravam-se os tais sentimentos, e eu julgava-os bem guardados
Apossaram-se de mim e torturaram-me até libertá-los
Ai do mundo por onde agora passeiam esses malditos inacabados

Sentimentos que aprisionados em meu peito morreram
Ressurgem sem alma em busca de um novo hospedeiro
Ilusões que nos doentios caminhos da minha mente se perderam
Escolhem a vitima de seu próximo tiro certeiro

Sem esses bastardos sentimentos secretos
Minha dobre mente reluta em divagar
Devo esquecer meu passado de lacrimosas memórias?
Futuro. Que dores terríveis reserva ele ao meu cadáver que a morte não vem buscar?!

Mylena Perez

Despite my Love

Tears, a thousand bloody tears
I’ve already cried so much
I’ve lost so many years
Baby, I’m feeling so alone
Haunted by all my fears
In this darkness of my own

(Chorus)
And these insane feelings are trying to push me down
Despite all my love for you, I’m holding on
If I make you happy by letting you go, I’m “gonna” move on
Despite all my love, despite all my love for you

Time, I’ve wasted so many time
Thinking ‘bout the love we had
Or just thinking on you
And all my world keeps falling down
The future I thought we could have
It’s now so far away

And these insane feelings are trying to push me down
Despite all my love for you, I’m holding on
If I make you happy by letting you go, I’m “gonna” move on
Despite all my love, despite all my love for you

Dreams, I had so many dreams
Every night I dream about you
‘Bout the things we could have done
Baby, your eyes are my shining stars
Without you I’m in the dark
And hope is just a dream

And these insane feelings are trying to push me down
Despite all my love for you, I’m holding on
If I make you happy by letting you go, I’m “gonna” move on
Despite all my love, despite all my love for you

And I will move on, but I won’t pretend I don’t care…

Mylena Perez

A Última Fábula

Trinta páginas ele havia escrito. Mas sobre quem? Sobre ela, sobre ele, sobre mães, filhos, mortes, amores... Sobre o que eram não importa agora, elas acabaram amassadas e rasgadas mesmo! A caneta parece escorregar da mão dele toda a vez que a segura. Com tanta coisa acontecendo a inspiração parece vir apenas pela metade. Nada parece estar completo, nada parece querer se completar. Numa sociedade aonde tudo já vem pronto ele não consegue mais criar, nada é original, tudo é copiado. E ele está ficando louco. O suor escorre da sua testa e pinga na folha branca cheia de rabiscos. Rabiscos, isso é tudo o que ele consegue fazer. Nenhuma história, nenhuma piada, nenhuma poesia, por menor que seja. Sua mente está cheia de idéias que parecem relutar em serem executadas. Tudo parece tão lindo quando em sua mente, mas quando ele pega a caneta, nada se concretiza. Assustadas pela crueldade do mundo, as palavras correm em busca de um esconderijo. Canções, fábulas, princesas e cavalos alados fogem horrorizados pela indiferença da sociedade. Na mídia, o único modo de fugir da realidade é criar outra pior ainda. Tiros, mortes, sangue, muito sangue e após os créditos o suspiro aliviado de pensar que não foi com você. Ele chora por não poder, como antigamente, fugir da realidade para reinos e bosques encantados cheios de prosopopéias. Ele chora pelo endurecimento dos corações do mundo e por ninguém ter percebido antes. Era tudo tão fácil, tão simples como as poucas palavras numa canção singela, como suspiros de donzelas, príncipes encantados e rosas. Hoje ele não consegue escrever, mas e se conseguisse quem leria? Você leria? E se ele conseguisse escrever como nas antigas histórias de amor, recriar cinderelas, fazer de assassinos feiticeiros, de cidades palácios, transformar prostitutas em donzelas? E se ele pudesse? E se ele? E se?
Assim ele pensou, e num último e desesperado esforço se trancou num quarto de hotel com lençóis brancos e pôs-se a escrever. Desligou as luzes, acendeu velas e criou uma história −a seus olhos− como nenhuma feita antes. Uma história divertida e que tinha uma moral, uma história que nela era fábula, canção e poesia. Apaixonou-se pela donzela, odiou o vilão, montou nos cavalos, e afiou as espadas. Tudo estava pronto, exceto os leitores. Ele foi à rua, tentou vender sua história já impressa. Nada aconteceu. Todos estavam muito mais preocupados com seus trabalhos e seu dinheiro. Se parassem poderiam ser assaltados, não é mesmo? Imagine se alguém gastaria um pouco de seu precioso dinheiro numa história tão antiquada!
Crianças! Pensou ele, crianças gostam de fábulas! E foi a uma escola, lá haveria muitas crianças, crianças não seriam atarefadas. Crianças são afinal, o futuro da nação, elas ainda estão aprendendo sobre a vida, são o público perfeito para a minha fábula, pensou ele!
Ao chegar naquela escola não tentou vender sua fábula, pois sabia que crianças não teriam dinheiro para comprar. Ele resolveu dar sua fábula, fazer um sorteio parecia divertido. Distribuiu papeizinhos e escolheu um nome. Muito contente, um menino de aparentes seis anos foi à frente da classe. “Aqui está o seu prêmio” disse o homem. O menino olhou para o bloco de folhas coloridas muito surpreso, leu o início, folheou procurando por figuras e muito decepcionado com seu “prêmio” disse ao escritor: “Que horror! É só isso? Pensei que fosse ganhar um videogame, isso aqui não me interessa não!” e amassou o bloco de folhas grampeado com tanto carinho pelo homem. O escritor juntou as folhas amassadas de sua história e se foi.
Videogame!? Então quer dizer que nem às crianças vai servir a minha história? Pensou ele. Ele voltou ao seu quarto e à sua amargura. O que mais ele poderia fazer? Será que não haveria solução para o egocentrismo de uma sociedade que desde pequena é ensinada a tomar paliativos instantâneos ao invés de encarar o problema? Ele não conseguia entender, simplesmente não conseguia mais agüentar a pressão de desperdiçar seu talento com um mundo que lhe era indiferente! Alguns dias se passaram e sem encontrar outra solução o escritor organizou, desamassou, grampeou novamente sua história e voltou com ela ao limpo, branco e impessoal quarto de hotel onde a escreveu. Um felpudo carpete branco estendia-se por toda a extensão do quarto. Era tudo tão limpo e impecável. Num movimento inesperado até mesmo por ele, o escritor abraçou sua história com todo o carinho de alguém que havia pensado ter escrito a salvação da humanidade e deu um tiro na cabeça! Seu corpo caiu no carpete branco e seu sangue manchou as folhas de sua história tão preciosa. O sangue pingou e pingou durante muito tempo, escorreu pelo carpete durante três dias até que o corpo do homem fosse encontrado. O que aconteceu quando o encontraram? A polícia levou o corpo, fechou o caso, pois o suicídio era óbvio e foi embora do local. Os empregados removeram o carpete branco e colocaram outro no lugar, limparam todo o quarto, trocaram os lençóis, jogaram a sua história no lixo do banheiro, levaram o saco de lixo embora e entregaram as chaves para os próximos hóspedes.Nada mudou.
Mas não se preocupe muito amigo, essa história não tem nada a ver com você ou comigo. Afinal ela foi baseada numa sociedade muito diferente da nossa, que tem guerras sem motivo ou com motivos muito diferentes dos nossos, que tem pessoas com problemas muito diferentes dos nossos e que tem um governo com tecnologia, ambições, idéias, religião, censura e cultura muito diferentes das nossas! Então talvez não haja motivo para preocupação. Talvez não haja. Talvez não. Mas apenas talvez.

Mylena Perez

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Girassóis

Mil noites estreladas
Brilhavam cor em seus sonhos insanos
E para pintar belas paisagens
Viveu seus últimos anos

Seu mundo amarelo
Mergulhado na escuridão
Seus girassóis despedaçados
Seu coração partido então

Perseguido por sua própria mente
Buscava refúgio na arte
Cada obra e ideologia era dele uma parte

Entre cores escuras e vivas foi perdendo a voz
No campo restou apenas o vermelho de seu sangue
E sobre o seu corpo, Girassóis



Mylena Perez