terça-feira, 28 de abril de 2009

Soneto a Vinicius de Morais

Queria poder, como você,
Cantar sem pudor as belezas do meu Rio
Queria fazer, como você,
Ruir as barreiras do verso mais frio

Queria amar, como você,
Muito, sempre e intensamente
Queria saber, como você,
Fazer rimar tudo naturalmente

Queria entender, como você,
Que a vida é um grande picadeiro
E que dela nada fica, tudo é passageiro

Queria cantar, como você,
A poesia que vem de dentro
Ouvir o coração, deixar que a arte fosse meu centro

Mylena Perez

Encontro

Noite fria
Caia a chuva fina
As lágrimas correm
O tic-tac tem pressa
Meu passado acena feliz
Recebendo inocente
O sorriso incerto do futuro
Como uma frágil criança
Entrando num quarto escuro
Tremendo de medo
Do invisível
Abre a pequena caixa
Do impensável
Memórias saltam
Numa confusão de sentimentos
De nomes e rostos
De gritos e risadas
Numa confusão de olhares
Eu, frágil criança
Sentada no chão
A caixa aberta
Observando aos prantos
A multidão que corre
Na sala vazia

Mylena Perez

Sky

Back, look back
A date, a face, a fact
Tears, no more
You do not own my tears anymore
Shine blue sky
Forever and ever shine
Hide blue sky
My scars and all I left behind
From what I thought I had
From whom I thought I was
Not later, I beg you, now
Hide suffering
Hide the sore

Mylena Perez

Tempo

Tic-tac
Tempo
Contratempo da vida

Horas, minutos, segundos
Tudo correndo
Solidão
Tempo
Maldito tempo
Dimensão da pressa
Tudo sempre passa
Rápido demais

Futuro, vento incerto
Espalha as peças
Do quebra-cabeça
Da vida

O tempo passa
Sem nem mesmo ser percebido
Fantasmas do passado
Dores do presente
Incertezas do futuro
Tudo sempre passa
Cada vez mais rápido
No ritmo do tic-tac

Lágrimas secam
Rápido demais
Sentimentos
Sensações
Declarações de amor
Poesias, quadros
Perderam o sentido
Pela falta de tempo

A vida presa
Controlada
Amordaçada
No seu próprio relógio

Tic-tac
Tempo
Contratempo da vida
Mylena Perez

Relembrar

Pare ser o brilho no teu olhar
O que eu não ousaria?
O que eu não trocaria para por ti me apaixonar?

O que eu não daria
Por mais um suspiro apaixonado?
Por mais um minuto ao teu lado
O que eu não faria?

Pararia o tempo
Viveria de passado

Mylena Perez

Lullaby

No one dares to step outside
As the sky is getting dark
When the roses start to die
All your fears become alive
Now the moon shines in the sky
And you can no longer hide
Far away you hear the lullaby
You know the lyrics
But can’t go back inside
‘Cause the fog erases your memories
You know it’s time to leave love behind

Mylena Perez

Jardim

O tempo passa
Para todos
Sempre passando
Irrelevante
Para mim
O meu jardim mental
Eu continuo regando
Nas roseiras da incerteza
Florescem sempre dúvidas
Enquanto minha lama
De pétalas de rosa
Banha-se na pureza
Dos copos de leite
A sacralidade das violetas
Emana a tristeza
Do meu presente
De um passado distante
Imortalizado
Nas florais letras
De uma poesia
Na partitura
De uma sinfonia da natureza
E o tédio da primavera eterna
Fornece clima e terreno
Para que eu ame e sofra
E com meu riso e choro
Continue sempre cultivando
Sempre produzindo

Mylena Perez

Noite

A água pinga do meu corpo
Junto com aminha vida
Que em pequenas gotas de suor
Aos poucos se esvai

A chama da vela velando
A corrida do ponteiro de ferro
E a chuva da noite chorando
A negra alma, quieta, ouvindo o som estranho
Do meu pranto terno
Hoje efêmero... Amanhã eterno

Mylena Perez

Senza te

Que faço eu da vida minha,
Que está tão ligada a tua
Que dos vales do meu corpo
Ainda pinga tua doçura?

Que faço eu do corpo meu,
Que está tão ligado ao teu
Que ainda bate em meu peito morto
Teu adúltero coração?

Que faço eu da alma minha,
Que está tão ligada a tua
Que apodrece meu espírito
Só de em ti pensar?

Que faço eu do coração meu,
Que está tão ligado ao teu
Que virou pássaro, céu, abismo
E do meu peito voou sem rumo para imensidão?

Mylena Perez

Mon amour

De mim o amor corre como um rio
Corre sempre, corre longo, corre tenso
Eu, amante, em teu corpo frio
Amo doce, amo amargo, amo intenso

O amor, em mim, é máximo
Longe, largo e completo
É extenso, intenso, é rápido
É amor de si mesmo repleto

É amor já feito, usado
Mas de aura branca, virginal
É limpo, sujo, santo e impuro
É amor selvagem, tribal

É, indiferentemente, ciumento
É o oitavo pecado capital
Vem de dentro, de fora, de sempre
Paixão que se alastra, amor visceral

O amor, em mim, é todos os sentimentos
É tristeza, dor, desolação
É gozo, é paixão, é saudade
É de corpo inteiro não só de coração

Mylena Perez