terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dúvida

Cantar como há muito não canto
Não invalidaria, quiçá, meu pranto?
Não tiraria de meu verso o encanto?
Não faria de mim tolo, portanto?
Não faria imundo o que jurei ser santo,
Se, do rosto, eu transformasse o espanto
Em verso, em lira, em dobre desencanto?

Mylena Perez

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Resquícios

Quando, quem sabe, forem meus sorrisos pranto
E já, em meu tudo, nada houver de teus encantos
Quando o pó de tua sombra tiver meu coração varrido
E o som de tua voz não mais zumbir em meus ouvidos

Então, como se em vão nada houvesse sido
Talvez me façam, eu te amos, novamente sentido,
Outros olhos, quiçá, de novo me olhem de olhares
E volte eu, então, ao meu plural, aos meus milhares

De que, então, me valem, lógica e raciocínio,
Se sem ti viro bicho, não penso,
Se nada faço sem teu domínio?

Nascerá, pois, sem ti, meu dia,
Se nada sinto ou sou longe de teus lábios,
Se se apagou a chama que outrora em mim ardia?

Mylena Perez

Plenitude

Um lago fundo, nunca pensei que fosse
Imóvel, plácido, taciturno
Respirando a brisa que incerta me bate
De tédio, de glória, de tudo

Mas fosse ainda azar minha sorte
O veneraria; de tudo me enche
Queima-me os lábios, faz-me fraco, forte
Louco, sóbrio, num gozo fervente

E quando beire a morte
Ainda que fôlego me sobre
Faz-me cativo, faz sul meu norte

E pleno, então,
Por ti imundo e nobre
Sou servo eterno de teu condão

Mylena Perez

Poeira,
Só, leve, e apenas.
Poeira de existência.

Meu ser é falho,
Pó, ao vento,
De onde nunca saí.

Algemas de nuvem
À liberdade atando-me
Incertamente, sendo se.

Esforço sóbrio,
De querer e só
Satisfeita dor

Do pó ao pó.
E no meio nada
Imaginária a chaga

Que julguei sentir,
Sei que foi por falta fazer
Do que um ser que já foi, só resta fugir

Mylena Perez