quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cativo

Fosse-me fácil o mundo transpor em palavras,
Mais vezes o faria
Fosse-me simples o corrigir falhas,
Mais erros cometeria

Fosse-me tudo, a priori, o canto
Sem medo cantaria
Pois enche-me e me esvazia
Sou nele e dele pleno e dependente

Guia-me – hipócrita – e, torpe,
Em mim tudo governa
E, ao passo que me domina
Torna-me mais dele e menos de mim mesmo

Porém, se me fossem soltas as cadeias,
E, liberto fosse do seu condão vazio,
Se de livre arbítrio me fosse cheio o espírito,
Ainda assim voltaria a meu martírio

Por conta e risco de quem se entrega,
Eu− sujeito e senhor; imundo
Repousa, num desejo dobre e masoquista,
O ser escravo por vontade

Mylena Perez
22/11/2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da Certeza

Mais certo seria se corresse o tempo como o sol que em minha pele ardia
Como singelo prelúdio, a introduzir o que viria
Mais fácil seria se ao correr do tempo eu me antecipasse
Mais cedo, quem sabe, o futuro chegasse mais tarde

E assim, no mais tardar, sensato, do meu ócio fizesse espera
E do meu plural, dobre, único fizesse, esfera
E dessa iminência torpe, efêmera e eterna
Fosse então, quem sabe, ainda o que me antes era

Sonhar... Será ao fim “sonhar” só o que de certo me resta?
Um compulsório fechar de olhos, incerto, sádico,
Que ao inspirar-me, molesta?

Será o Fosse, então, mais certo que o É, que o Foi ou que o Era,
E a minha certeza humana, a razão, da dúvida o império em terra?
E se fosse, poderia eu enfim ter de algo certeza?

Mylena Perez
10/05/2011