Mostrando postagens com marcador mylenaperez. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mylenaperez. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Autopoema

Sou uma lagoa na planície
Onde o vento bate e balança o Cipestre
Sou um, negro, lago Ness de imundície
Onde o sol bate, na pele, e ferve

Sou o espírito do filósofo em crise
De quem do mundo alma se esquece
Sou o patinho feio que a cada frase vir cisne
Mas volta sempre a podridão a que pertence

Sou a árvore mais alta da floresta
Que tudo vê e por ninguém padece
Sou um riso de criança, inocente
Que mira à lua e faz sua prece

Sou o olhar doa amantes platônicos
Que se desejam e não se podem ter
Sou, claramente, o mais sábio dos homens
Mas no escuro, como Sócrates, só sei nada saber

Sou a brisa que derruba, das mulheres, os chapéus graciosos
Chuva que lava cenas- do- crime e almas de criminosos
Sou a lágrima quente que escorre no rosto frio
Que como gota de sangue, enobrece meu martírio

Sou um mar, salgado, de mágoas
De ilusão, profundo, afogando o viver
Sou um rio, perene, de águas
De onde corre poesia e onde se perde o meu ser

Mylena Perez

domingo, 23 de março de 2008

Toca em mim

Toca em mim Senhor, toca de novo
Como o Cego em Betsaida, renova a minha visão
Toca em mim Senhor, toca de novo
Vem Espírito santo
E sonda meu coração

Porque tudo o que sou, eu devo a Ti Senhor
Porque tudo o que eu tenho a Ti pertence
Eu Lhe devo a minha vida
Pois das Trevas me salvou
E livrou-me do jugo do pecado

Toca em mim Senhor, toca de novo
Como o Cego em Betsaida, renova a minha visão
Toca em mim Senhor, toca de novo
Vem Espírito santo
E sonda meu coração

Eu quero ser usado com tudo o que sou
E através da minha vida exaltar o Teu nome
Pois Teu precioso sangue as minhas vestes lavou
Quero Te adorar de todo o meu coração

Toca em mim Senhor, toca de novo...

Mylena Perez

A Última Fábula

Trinta páginas ele havia escrito. Mas sobre quem? Sobre ela, sobre ele, sobre mães, filhos, mortes, amores... Sobre o que eram não importa agora, elas acabaram amassadas e rasgadas mesmo! A caneta parece escorregar da mão dele toda a vez que a segura. Com tanta coisa acontecendo a inspiração parece vir apenas pela metade. Nada parece estar completo, nada parece querer se completar. Numa sociedade aonde tudo já vem pronto ele não consegue mais criar, nada é original, tudo é copiado. E ele está ficando louco. O suor escorre da sua testa e pinga na folha branca cheia de rabiscos. Rabiscos, isso é tudo o que ele consegue fazer. Nenhuma história, nenhuma piada, nenhuma poesia, por menor que seja. Sua mente está cheia de idéias que parecem relutar em serem executadas. Tudo parece tão lindo quando em sua mente, mas quando ele pega a caneta, nada se concretiza. Assustadas pela crueldade do mundo, as palavras correm em busca de um esconderijo. Canções, fábulas, princesas e cavalos alados fogem horrorizados pela indiferença da sociedade. Na mídia, o único modo de fugir da realidade é criar outra pior ainda. Tiros, mortes, sangue, muito sangue e após os créditos o suspiro aliviado de pensar que não foi com você. Ele chora por não poder, como antigamente, fugir da realidade para reinos e bosques encantados cheios de prosopopéias. Ele chora pelo endurecimento dos corações do mundo e por ninguém ter percebido antes. Era tudo tão fácil, tão simples como as poucas palavras numa canção singela, como suspiros de donzelas, príncipes encantados e rosas. Hoje ele não consegue escrever, mas e se conseguisse quem leria? Você leria? E se ele conseguisse escrever como nas antigas histórias de amor, recriar cinderelas, fazer de assassinos feiticeiros, de cidades palácios, transformar prostitutas em donzelas? E se ele pudesse? E se ele? E se?
Assim ele pensou, e num último e desesperado esforço se trancou num quarto de hotel com lençóis brancos e pôs-se a escrever. Desligou as luzes, acendeu velas e criou uma história −a seus olhos− como nenhuma feita antes. Uma história divertida e que tinha uma moral, uma história que nela era fábula, canção e poesia. Apaixonou-se pela donzela, odiou o vilão, montou nos cavalos, e afiou as espadas. Tudo estava pronto, exceto os leitores. Ele foi à rua, tentou vender sua história já impressa. Nada aconteceu. Todos estavam muito mais preocupados com seus trabalhos e seu dinheiro. Se parassem poderiam ser assaltados, não é mesmo? Imagine se alguém gastaria um pouco de seu precioso dinheiro numa história tão antiquada!
Crianças! Pensou ele, crianças gostam de fábulas! E foi a uma escola, lá haveria muitas crianças, crianças não seriam atarefadas. Crianças são afinal, o futuro da nação, elas ainda estão aprendendo sobre a vida, são o público perfeito para a minha fábula, pensou ele!
Ao chegar naquela escola não tentou vender sua fábula, pois sabia que crianças não teriam dinheiro para comprar. Ele resolveu dar sua fábula, fazer um sorteio parecia divertido. Distribuiu papeizinhos e escolheu um nome. Muito contente, um menino de aparentes seis anos foi à frente da classe. “Aqui está o seu prêmio” disse o homem. O menino olhou para o bloco de folhas coloridas muito surpreso, leu o início, folheou procurando por figuras e muito decepcionado com seu “prêmio” disse ao escritor: “Que horror! É só isso? Pensei que fosse ganhar um videogame, isso aqui não me interessa não!” e amassou o bloco de folhas grampeado com tanto carinho pelo homem. O escritor juntou as folhas amassadas de sua história e se foi.
Videogame!? Então quer dizer que nem às crianças vai servir a minha história? Pensou ele. Ele voltou ao seu quarto e à sua amargura. O que mais ele poderia fazer? Será que não haveria solução para o egocentrismo de uma sociedade que desde pequena é ensinada a tomar paliativos instantâneos ao invés de encarar o problema? Ele não conseguia entender, simplesmente não conseguia mais agüentar a pressão de desperdiçar seu talento com um mundo que lhe era indiferente! Alguns dias se passaram e sem encontrar outra solução o escritor organizou, desamassou, grampeou novamente sua história e voltou com ela ao limpo, branco e impessoal quarto de hotel onde a escreveu. Um felpudo carpete branco estendia-se por toda a extensão do quarto. Era tudo tão limpo e impecável. Num movimento inesperado até mesmo por ele, o escritor abraçou sua história com todo o carinho de alguém que havia pensado ter escrito a salvação da humanidade e deu um tiro na cabeça! Seu corpo caiu no carpete branco e seu sangue manchou as folhas de sua história tão preciosa. O sangue pingou e pingou durante muito tempo, escorreu pelo carpete durante três dias até que o corpo do homem fosse encontrado. O que aconteceu quando o encontraram? A polícia levou o corpo, fechou o caso, pois o suicídio era óbvio e foi embora do local. Os empregados removeram o carpete branco e colocaram outro no lugar, limparam todo o quarto, trocaram os lençóis, jogaram a sua história no lixo do banheiro, levaram o saco de lixo embora e entregaram as chaves para os próximos hóspedes.Nada mudou.
Mas não se preocupe muito amigo, essa história não tem nada a ver com você ou comigo. Afinal ela foi baseada numa sociedade muito diferente da nossa, que tem guerras sem motivo ou com motivos muito diferentes dos nossos, que tem pessoas com problemas muito diferentes dos nossos e que tem um governo com tecnologia, ambições, idéias, religião, censura e cultura muito diferentes das nossas! Então talvez não haja motivo para preocupação. Talvez não haja. Talvez não. Mas apenas talvez.

Mylena Perez

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Última Chance

Última Chance

Ela pensa nele todo o tempo. Talvez ele não faça o mesmo, talvez faça. Ela não o vê há meses. Seu coração está “apertado”. Ela sempre o amou. Dele não se pode dizer o mesmo com certeza. Ele tem outras. Ela tenta tê-los. Nada parece fazer sentido sem ele. A vida dela é uma incessante rotina sem fim. Seus sorrisos não são verdadeiros. Nem suas lágrimas possuem vida. Ela o ama tanto, que não se ama sem ele. Ela é apenas uma mancha no tecido da vida. Ela faz de um tudo para tê-lo novamente. Ela não vê sentido em continuar vivendo. Vive por inércia somente. Não existem para ela, prazeres sem ele. Ele diz que um dia ficarão juntos. Ela prefere que “um dia” seja hoje.
Ela o encontra. Seus olhares se cruzam. Ele desvia o dele. Ela diz que o ama. Isso estabelece um longo período de silêncio. Os olhos dela se enchem de lágrimas. Ele “desconversa”. Ela recomeça o assunto. Ele diz que a ama de outra forma. Ela deixa escorrer uma única lágrima. Ele a abraça com força, mas não a beija. Ela o afasta. Ele se irrita. Ele diz que ela deve aceitar o seu destino. Ela toma a palavra para si. A mente dela divaga. Eles se despedem. Ele se vai. Ela corre para o centro da cidade. Ela se lembra da bonita frase dita por ele: “−Você deve aceitar seu destino”. Ela repete a frase incessantemente dentro de si mesma.
Já é noite. A vista do trigésimo terceiro andar é linda. As casas e prédios parecem vaga-lumes lá de cima. Ela pensa nele. Ele está no primeiro andar. Ela não sabe. Ele está arrependido. Mentalmente ele ensaia juras de amor eterno. O elevador está quebrado. Ele sobe as escadas tranquilamente. Ela abre os braços. O vento bate em seus cabelos loiros. Ela luta contra a inércia que a domina. Ela fecha seus olhos azuis. A única luz ao seu redor é a do corredor que leva às escadas. Lá em baixo os faróis dos carros parecem chamar seu nome. Ele está agora no trigésimo andar. Ela está na ponta dos pés. Ele está no corredor. Ela repete a frase em voz alta uma última vez: “−Você deve aceitar seu destino”. Ele ouve. Ele a vê. A noite a chama. Ela pula. Ele grita apavorado. Ela o ouve e grita. Ela se arrepende. Seu destino se cumpre. Ele deita no terraço a chorar. Ele ainda tem a chance de ouvir o som do corpo dela bater no chão. Ele desce as escadas correndo. Na calçada o desespero é geral. Ela não está reconhecível. Há muito sangue. Há sangue na calçada e na rua. Uma chuva fina lava o sangue do seu corpo desfigurado. Ele deita seu corpo sobre o que restou dela. Sua pele branca é marcada pelo sangue dela.
Ele “apaga”. Quando ele acorda a luz está forte. Ele está em seu quarto. Não há sangue nem gritos. Ele olha para o relógio. Ainda são nove horas da manhã. Ele olha o calendário. Ainda é quarta-feira. Mas como?! Ele tem o prazer de perceber que foi tudo um sonho! Ele corre como nunca antes até a casa dela. Ele grita em sua janela. Ela não entende. Larga a xícara de café e vai até ele. Ele se declara. Eles choram. Ele a abraça muito forte, mas dessa vez ele a beija. Ele pede desculpas. Ela pergunta por quê. Ele diz que já não importa. Não valeria a pena contar. Nem todos têm uma última chance como eles tiveram.


Mylena Perez (08 e 09 12 2007)