segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Reencontro


Como antigo amante, irado, que há muito se foi
Queima-me num instante e aos poucos me corrói
O que há de seguro em mim faz frívolo e só
E num sussurro impuro faz-me noite,cinza e pó

E do amargo gosto da saliva tua em beijo
Fica o osso exposto desse mórbido cortejo
A quem nada devo e de quem nada, nunca, anseio
Por quem nada atrevo além de dobre devaneio

Faz-me hoje dor o que outrora fez-me gozo
Dúbio,traidor,implacável,canceroso
Pois já,longe, foi-se o tempo em que ansiava ouvir-te atento
Hoje anelo contratempo que invalide o teu intento

Que se apague a torpe chama que então em mim ardia
Como fria fez-se a cama em que já ninguém dormia
Basta! Vai-te embora! Tem clemência deste errante!
E que longe de tua aurora, rumo à morte eu siga adiante.


Mylena Perez
16/02/2015

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Inspiração

Voz atroz, que em mim ferra, encerra
No seio anseio de perdido ardor
És pardo dardo — inconstante, errante
Absorto porto de infiel torpor

És louco solto, ingenuamente ardente
Comando brando e inspiração
Perverso verso que à guilhotina inclina
A minha alma calma...  Cante ilusão

Perigo antigo és, intenso incenso
Forçado afago que me faz sofrer
Certeiro arqueiro que à esperança lança
E em combate abate o que me faz viver

Veneno ameno que transborda a horda
É um doce fosse que me tira o ar
Cinzento alento teu eterno inferno
Onde me algemo e temo pelo meu amar

 Pois canto há tanto que é instinto e minto
Fadada a nada de real sentir
Imploro e choro por confuso abuso
Que em fachadas dadas não vou traduzir

Mylena Perez






quarta-feira, 25 de setembro de 2013

De Tempo e Dor


Sorrisos,risos.disso nada além
Lembranças são, pouco se mantém
Apenas vulto, turvo espasmo efêmero
Vestígio morto do que já vivi

E comigo o tempo,por todo caminho
Num lembrar constante do sofrer sozinho
Fez da alma velha,desprezada e só
E apegou-se a dor,fê-la ombro amigo

E num turbilhão de sentimentos mil
Fez do bem o mal,fez do bom o vil
Trazendo a dor a uma constante incômoda
Reduzindo-me a alma a nada mais que sombra

E se não mais há o que se faça agora
Que não sentir o badalar das horas
Que eu seja tudo e nada em mim se perca
Que o sinta o nada ,e o nada tudo seja

Mylena Perez
25/09/2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Plágio


Por estar cantando
O que há muito cantam
Me presumem sábio
E me julgam santo

Porém só repito
O que há muito li
O que resta n’alma
Do que já senti

E em meu peito encerro
O segredo a morte
Que não há um dia
Em que eu não tenha sorte

Já que nada sou além de letras soltas
Verso plagiado, copiado, tosco
Que o ouvido ouve, enojado e cospe
E eu vendo ao mundo como algo novo

Mylena Perez

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

SORTE

"Sorte tenho
Que tempo me ainda resta
E reste tempo
Pois sorte me já não basta

 Fosse dia
A noite que agora se passa
 Restar-me-ia
Um tudo, um sempre, uma olhada

 Não tem nome
 É dor que me assola de graça
 Nada teme
 É dócil, é doce, é uma farsa

 Vem num vento
 E leva-me o corpo e a alma
 E resta o tempo
 À vida que se faz escassa”

 Por Mylena Perez
 Em 16/01/2013

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fardo

Fosse fácil esquecer-te, certamente o faria
E sem ti, viver- imagino eu−fácil seria
Pois nisso, o que há de prazer há de dor
Como parte do que é sofrer é também amor

E como tórrida chuva, que apenas cai em pensamento
Machuca-me teu amor em silêncio, por dentro
Pois ainda que ousasse então a externo trazê-lo
Inspirar-lhe-ia, em vão, eterno desapego

Pois a ninguém interessa o que faz em mim teu cheiro
E é fardo único e meu esse pranto já costumeiro
Se foi e é ainda vivo esse amor, seria negá-lo, presunção

E algo além dele sentir, loucura, quando não me há opção
Então de pranto vivo e do tempo que me sacia
Pois de amor, em ti nasci e de ti morro, do contrário, nada seria

Mylena Perez
25/01/2012

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cativo

Fosse-me fácil o mundo transpor em palavras,
Mais vezes o faria
Fosse-me simples o corrigir falhas,
Mais erros cometeria

Fosse-me tudo, a priori, o canto
Sem medo cantaria
Pois enche-me e me esvazia
Sou nele e dele pleno e dependente

Guia-me – hipócrita – e, torpe,
Em mim tudo governa
E, ao passo que me domina
Torna-me mais dele e menos de mim mesmo

Porém, se me fossem soltas as cadeias,
E, liberto fosse do seu condão vazio,
Se de livre arbítrio me fosse cheio o espírito,
Ainda assim voltaria a meu martírio

Por conta e risco de quem se entrega,
Eu− sujeito e senhor; imundo
Repousa, num desejo dobre e masoquista,
O ser escravo por vontade

Mylena Perez
22/11/2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da Certeza

Mais certo seria se corresse o tempo como o sol que em minha pele ardia
Como singelo prelúdio, a introduzir o que viria
Mais fácil seria se ao correr do tempo eu me antecipasse
Mais cedo, quem sabe, o futuro chegasse mais tarde

E assim, no mais tardar, sensato, do meu ócio fizesse espera
E do meu plural, dobre, único fizesse, esfera
E dessa iminência torpe, efêmera e eterna
Fosse então, quem sabe, ainda o que me antes era

Sonhar... Será ao fim “sonhar” só o que de certo me resta?
Um compulsório fechar de olhos, incerto, sádico,
Que ao inspirar-me, molesta?

Será o Fosse, então, mais certo que o É, que o Foi ou que o Era,
E a minha certeza humana, a razão, da dúvida o império em terra?
E se fosse, poderia eu enfim ter de algo certeza?

Mylena Perez
10/05/2011

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dúvida

Cantar como há muito não canto
Não invalidaria, quiçá, meu pranto?
Não tiraria de meu verso o encanto?
Não faria de mim tolo, portanto?
Não faria imundo o que jurei ser santo,
Se, do rosto, eu transformasse o espanto
Em verso, em lira, em dobre desencanto?

Mylena Perez

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Resquícios

Quando, quem sabe, forem meus sorrisos pranto
E já, em meu tudo, nada houver de teus encantos
Quando o pó de tua sombra tiver meu coração varrido
E o som de tua voz não mais zumbir em meus ouvidos

Então, como se em vão nada houvesse sido
Talvez me façam, eu te amos, novamente sentido,
Outros olhos, quiçá, de novo me olhem de olhares
E volte eu, então, ao meu plural, aos meus milhares

De que, então, me valem, lógica e raciocínio,
Se sem ti viro bicho, não penso,
Se nada faço sem teu domínio?

Nascerá, pois, sem ti, meu dia,
Se nada sinto ou sou longe de teus lábios,
Se se apagou a chama que outrora em mim ardia?

Mylena Perez

Plenitude

Um lago fundo, nunca pensei que fosse
Imóvel, plácido, taciturno
Respirando a brisa que incerta me bate
De tédio, de glória, de tudo

Mas fosse ainda azar minha sorte
O veneraria; de tudo me enche
Queima-me os lábios, faz-me fraco, forte
Louco, sóbrio, num gozo fervente

E quando beire a morte
Ainda que fôlego me sobre
Faz-me cativo, faz sul meu norte

E pleno, então,
Por ti imundo e nobre
Sou servo eterno de teu condão

Mylena Perez

Poeira,
Só, leve, e apenas.
Poeira de existência.

Meu ser é falho,
Pó, ao vento,
De onde nunca saí.

Algemas de nuvem
À liberdade atando-me
Incertamente, sendo se.

Esforço sóbrio,
De querer e só
Satisfeita dor

Do pó ao pó.
E no meio nada
Imaginária a chaga

Que julguei sentir,
Sei que foi por falta fazer
Do que um ser que já foi, só resta fugir

Mylena Perez

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Nº 8

As encostas choravam meu nome
E as lágrimas do rio
Lambiam os lábios da terra
E assim, o eu de magma tocava o eu de nuvem
Soltando a fumaça
Que pintava arco-íris
Na íris do olho
Do universo

E mil pequenos duendes verdes riam
Riam e rolavam
Rolavam e apontavam
Para o, nu, seio da Terra
Que numa erupção de vergonha
Voou rasante de um sonho
Ainda coberto da serpentina
De algum passado carnaval

E quando o silêncio reinava
A terra me engolia e cuspia
Preso em verdes e vermelhos
E azuis e amarelos e em teus negros olhos verdes
Fez-se o início do fim
Uma nuvem, um sinal de fumaça
Que acenava em minha alma me chamando
“Venha só”
E a solidão que eu bem conheço
Fez-se bosque e noite e campo fresco
A lua, roxa, piscou em minha alma
E a noite foi passando ao som de incenso

Mylena Perez

Autopoema

Sou uma lagoa na planície
Onde o vento bate e balança o Cipestre
Sou um, negro, lago Ness de imundície
Onde o sol bate, na pele, e ferve

Sou o espírito do filósofo em crise
De quem do mundo alma se esquece
Sou o patinho feio que a cada frase vir cisne
Mas volta sempre a podridão a que pertence

Sou a árvore mais alta da floresta
Que tudo vê e por ninguém padece
Sou um riso de criança, inocente
Que mira à lua e faz sua prece

Sou o olhar doa amantes platônicos
Que se desejam e não se podem ter
Sou, claramente, o mais sábio dos homens
Mas no escuro, como Sócrates, só sei nada saber

Sou a brisa que derruba, das mulheres, os chapéus graciosos
Chuva que lava cenas- do- crime e almas de criminosos
Sou a lágrima quente que escorre no rosto frio
Que como gota de sangue, enobrece meu martírio

Sou um mar, salgado, de mágoas
De ilusão, profundo, afogando o viver
Sou um rio, perene, de águas
De onde corre poesia e onde se perde o meu ser

Mylena Perez

Acidental

O vento batia nas árvores
Mas minh’alma ouvia Chopin
Os pensamentos perdi numa esquina de paris
Já ressoava, metálico, o badalar das estrelas
Quando a lua piscou seus olhos azuis
Bem do fundo amarelo chegou, inesperado, o tão adorado spleen
Mas a noite virou dia, luz e fez cara de sol
Ressoou pela última vez o cheiro de incenso tingido de navy-blue
E antes que eu percebesse, meio incompleto, saiu mancando pela cidade um verso perneta

Mylena Perez

Lamentação

Em ondas revoltas de lágrimas
O mar escorre em meu rosto
Memórias, estreitas, não passam, mas
Nos olhos é o mundo já posto

Feito estrelas no negro firmamento
Lembranças hoje brilham dobres e nuas
É o imaginário concreto, um pensamento
Me faz outra vez tocarem as mãos tuas

É o pingo de água da chuva
É a gota da lágrima minha
É o olho que pisca na noite
É a lua que brilha sozinha

“Olho por olho” quero vê-la sofrer
Chorar! É agora “dente por dente”,
De satisfação a lágrima do meu rosto escorrer
Irromper a vingança de paixão latente

Se fosse efêmera a luz desse inverso...
Que me cega para não mais ver-te
Mas é eterno, eterno; Eterno
O martírio de ver-te e não ter-te

Um nome, um rosto, um beijo
Quem dera hoje esquecê-los eu?
É esse cárcere de saudade e desejo
Esverdeando o azul do meu céu

No espírito a noite gelada
E na boca a palavra não lida
É o remorso da maldição pregada
Na morte, “morte pela vida”

É a dor de uma foto rasgada
Numa noite de sono perdida
Mas tua alma, num canto, largada
Há de sentir a dor da ferida

É o sonho apagado, esquecido
Ou o murmúrio do vinho bebido?
É teu olhar de pura trapaça
Que vem a mente e não passa

É o vinho que resta na taça...
Mas doce? Ah, a loucura que herdei !
É aboca que beijo uma farsa?
Pois não sei se vivi ou sonhei

É o sentido perdido
Do fogo apagado a chama
Sabotado, fingido
Do qual só restou-me o drama

Fosse ainda mais leve a memória tua
A levaria, de espírito pesado
Mas que carregues tu o teu fardo
E apague, na saída, o interruptor da lua

Mylena Perez

Amada

Ó quão doces os lábios, os beijos
Da eterna Julieta minha
Tão singelos os toques
Ah! As cantigas que entoa sozinha

As ouvir ­ se as ouço entoar minha rainha
Faz me suspirar
E ao saudá-la, ah o rubor de sua face
Tão rósea, ao ouvir a voz minha

Cintila no olhar a faísca
Se encontra meu pensamento a linha sua
Floresce, dentro de mi, botão de paixão nua

Por ela canto estrelas
Louco Ícaro que a vida arrisca
Ah, tão doce, se ao menos pudesse vê-las

Mylena Perez

terça-feira, 28 de abril de 2009

Soneto a Vinicius de Morais

Queria poder, como você,
Cantar sem pudor as belezas do meu Rio
Queria fazer, como você,
Ruir as barreiras do verso mais frio

Queria amar, como você,
Muito, sempre e intensamente
Queria saber, como você,
Fazer rimar tudo naturalmente

Queria entender, como você,
Que a vida é um grande picadeiro
E que dela nada fica, tudo é passageiro

Queria cantar, como você,
A poesia que vem de dentro
Ouvir o coração, deixar que a arte fosse meu centro

Mylena Perez

Encontro

Noite fria
Caia a chuva fina
As lágrimas correm
O tic-tac tem pressa
Meu passado acena feliz
Recebendo inocente
O sorriso incerto do futuro
Como uma frágil criança
Entrando num quarto escuro
Tremendo de medo
Do invisível
Abre a pequena caixa
Do impensável
Memórias saltam
Numa confusão de sentimentos
De nomes e rostos
De gritos e risadas
Numa confusão de olhares
Eu, frágil criança
Sentada no chão
A caixa aberta
Observando aos prantos
A multidão que corre
Na sala vazia

Mylena Perez

Sky

Back, look back
A date, a face, a fact
Tears, no more
You do not own my tears anymore
Shine blue sky
Forever and ever shine
Hide blue sky
My scars and all I left behind
From what I thought I had
From whom I thought I was
Not later, I beg you, now
Hide suffering
Hide the sore

Mylena Perez

Tempo

Tic-tac
Tempo
Contratempo da vida

Horas, minutos, segundos
Tudo correndo
Solidão
Tempo
Maldito tempo
Dimensão da pressa
Tudo sempre passa
Rápido demais

Futuro, vento incerto
Espalha as peças
Do quebra-cabeça
Da vida

O tempo passa
Sem nem mesmo ser percebido
Fantasmas do passado
Dores do presente
Incertezas do futuro
Tudo sempre passa
Cada vez mais rápido
No ritmo do tic-tac

Lágrimas secam
Rápido demais
Sentimentos
Sensações
Declarações de amor
Poesias, quadros
Perderam o sentido
Pela falta de tempo

A vida presa
Controlada
Amordaçada
No seu próprio relógio

Tic-tac
Tempo
Contratempo da vida
Mylena Perez

Relembrar

Pare ser o brilho no teu olhar
O que eu não ousaria?
O que eu não trocaria para por ti me apaixonar?

O que eu não daria
Por mais um suspiro apaixonado?
Por mais um minuto ao teu lado
O que eu não faria?

Pararia o tempo
Viveria de passado

Mylena Perez

Lullaby

No one dares to step outside
As the sky is getting dark
When the roses start to die
All your fears become alive
Now the moon shines in the sky
And you can no longer hide
Far away you hear the lullaby
You know the lyrics
But can’t go back inside
‘Cause the fog erases your memories
You know it’s time to leave love behind

Mylena Perez

Jardim

O tempo passa
Para todos
Sempre passando
Irrelevante
Para mim
O meu jardim mental
Eu continuo regando
Nas roseiras da incerteza
Florescem sempre dúvidas
Enquanto minha lama
De pétalas de rosa
Banha-se na pureza
Dos copos de leite
A sacralidade das violetas
Emana a tristeza
Do meu presente
De um passado distante
Imortalizado
Nas florais letras
De uma poesia
Na partitura
De uma sinfonia da natureza
E o tédio da primavera eterna
Fornece clima e terreno
Para que eu ame e sofra
E com meu riso e choro
Continue sempre cultivando
Sempre produzindo

Mylena Perez

Noite

A água pinga do meu corpo
Junto com aminha vida
Que em pequenas gotas de suor
Aos poucos se esvai

A chama da vela velando
A corrida do ponteiro de ferro
E a chuva da noite chorando
A negra alma, quieta, ouvindo o som estranho
Do meu pranto terno
Hoje efêmero... Amanhã eterno

Mylena Perez

Senza te

Que faço eu da vida minha,
Que está tão ligada a tua
Que dos vales do meu corpo
Ainda pinga tua doçura?

Que faço eu do corpo meu,
Que está tão ligado ao teu
Que ainda bate em meu peito morto
Teu adúltero coração?

Que faço eu da alma minha,
Que está tão ligada a tua
Que apodrece meu espírito
Só de em ti pensar?

Que faço eu do coração meu,
Que está tão ligado ao teu
Que virou pássaro, céu, abismo
E do meu peito voou sem rumo para imensidão?

Mylena Perez

Mon amour

De mim o amor corre como um rio
Corre sempre, corre longo, corre tenso
Eu, amante, em teu corpo frio
Amo doce, amo amargo, amo intenso

O amor, em mim, é máximo
Longe, largo e completo
É extenso, intenso, é rápido
É amor de si mesmo repleto

É amor já feito, usado
Mas de aura branca, virginal
É limpo, sujo, santo e impuro
É amor selvagem, tribal

É, indiferentemente, ciumento
É o oitavo pecado capital
Vem de dentro, de fora, de sempre
Paixão que se alastra, amor visceral

O amor, em mim, é todos os sentimentos
É tristeza, dor, desolação
É gozo, é paixão, é saudade
É de corpo inteiro não só de coração

Mylena Perez

terça-feira, 31 de março de 2009

Uma prece

Dá-me orgulho, Senhor, desta arte
Doce arte, odiada e amada
Dá-me orgulho, Senhor, desta arte
Voraz e canibal e mal-amada

Tira a dor, Senhor , deste corpo
Já moído de poesia
Tira a dor, Senhor, deste corpo
Que é alma presa na fantasia

Leva, Senhor, desta vida
Esse coração machucado
Leva embora, Senhor, desta vida
Meu espírito malcriado

Passa, Senhor, de mim
O cálice da poesia
Passa ,Senhor, de mim
A dor desta nostalgia

Faz secar ,Senhor, do meu rosto
Essa lágrima, vermelha, de sangue
Faz sumir, Senhor, do meu rosto
Essa marca do meu desgosto

Faz fluir, Senhor, do meu corpo
Amor, desejo, paixão
Faz chover , Senhor, no meu corpo
Um pouco mais dessa tosca ilusão

Mylena Perez

Fantasma

Essa paixão que era e não é mais
É hidra herege que não hesita
Hera que cresce e não é detida
Harpeando hiatos hematófagos
Dessa paixão que era e que não é mais

Mylena Perez

O pôr do sol
Um banco de praça, vazio
Reflete, amarelo
O meu sentimento

O meu coração
Num banco de praça,
Amarelo,
Sozinho, reflete

Mylena Perez

Mini

Lágrima da chuva, gelada
Pinga,
Chove do olho do céu

Mylena Perez

terça-feira, 3 de março de 2009

Psicodelic

É madrugada e, como de costume, meus olhos relutam em fechar
Se enchem again desse nostalgic wonder
Visões de futuros, lembranças de passados
People I don't even know but keep calling my name
C'est moi
Embora eu queira não ser
"To be or not to be?" Not to be
Me disfarço
Minhas máscaras caem
Y los otros nombres pasan
Eu continuo sempre a mudar
But yet I always remain the same

Mylena Perez

Vazia, enfim

E foi então, somente então
Naquela tarde de agosto
Que senti,enfim, o tão falado vazio
Aquele que nunca entendi
O que só me trouxe desgosto

Uma falta do que não se sabe
Uma saudade de quem não se conhece
Vontade de voltar atrás para onde nunca se foi

Doendo sempre sem nunca cessar
Uma dor que lateja insensível
Me machucado sem me machucar

Esse vácuo no fundo do peito
Crescendo, crescendo
Sem nada criar

Mylena Perez

Soneto da Opulência Mínima

E eu,
A tão pequena,
A infinitamente pequena,
A "so small"?

E eu,
A opulência ilusória,
A grandeza mínima,
"The little one"?

Onde todo o meu corpo
Se banha em sangue
E vergonha

Quando o infinito é
Enfim eterno
Embora "petit" como eu

Mylena Perez

Vãs suposições

Não conhecesse eu tua linha de pensamento, tão previsível
Não estivesse meu imundo coração ao amor tão sucetível
Não fosse meu ego um alvo tão fácil de ser esmagado
Talvez não rolassem hoje essas lágrimas azedas

Não fosse eu tão amargamnte egoísta
Girasse meu mundo ao redor de outro alguém, que não eu
Enxergasse eu mais, além de minha própria alma e fúteis problemas
Talvez chovessem soluções, caissem do céu as centenas

Não ardessem agora, como que cobertos do mais puro veneno, meus olhos
Não fosse a chuva que cai a única coisa mais fria que minh'alma nesse momento
Não fosse negra como a noite e mórbida como a cinza a lágrima que me mancha agora a face
Talvez me doesse menos no íntimo o pesar de mais um pedante mal-entendido

Prestasse eu mais atenção aos sentimenos alheios, ou menos aos meus próprios
Sentisse eu menos pena de mim ( de minha "suposta" condição)
Atirasse eu, aos outros, menos pedras e estendesse a eles mais mãos-amigas
Talvez secassem mais rápido as lágrimas e suas marcas amargas

Talvez sarassem mais rápido as feridas na alma
Talvez chegasse mais rápido o sono certas noites
Talvez pudesse eu seguir em frente livre o impulso sádico de olhar sempre para trás

Mylena Perez

Desilusão

Denso
O olhar, amargo e doce,
Pinga,
A lágrima, como se não fosse
A dor
Mais forte e intensa
Da tua indiferença
Que aminha indecisão

Mylena Perez

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fardo

É uma quente noite de verão
E quando a lágrima escorre,vem sem aparente motivo,
O que é real, aos poucos, morre
Fenece como um sorriso

A lua Brilha, lá em cima, ornamentando o firmamento
Se essa lágrima ferve, queimando meu rosto cativo
Minh'alma, para junto da lua
E deixando meu corpo, voa, como que por feitiço

Anos se passam, ainda que em um só minuto
Futuro, passado e presente juntos nesse momento insólito
Revivem um medo que eu pensava já ter sido esquecido
Ou uma frase que eu acreditava não ter mais sentido

Fosse eu o mais burro dos homens
Ou o mais covarde dos meninos
Poderia a mais bela dama da corte ter sido
Ou o mais sagaz rei ter iludido

Sei que ainda assim, nessas noites quentes de verão
Essa brisa leve clamaria à minha alma por um abrir de olhos
E então, sendo inútil o confronto, tendo ela me já vencido
Uma ou outra poesia naquela noite teria surgido


Mylena Perez

Jornada

Venha comigo
Ontem, hoje, sempre
Para cima, para o infinito
"Além, acima do além"
Como os acrobatas de Vinícius
Cada vez mais longe, mais alto
Onde somem finais e inícios

Mylena Perez

Ventos Contrários

Sinto os ventos do norte
A bagunçar meus cabelos
E fecho os olhos

Pois há sempre um porém
Não importa o quão forte o vento vem
Ainda que ínfimo, sempre um mas
Corroendo aos poucos minha paz
Fazendo eterna a minha indecisão
E lenta a perda da razão
Criando ondas em meu copo d'água
Naufragando meus navios em mágoa
Há sempre um contudo
Que não me diz nada e quer que eu diga tudo
Um maldito entretanto
Tentando, incansável, abafar meu canto
Num mundo de mentes recessivas
Dominado pelas adversativas
Eu, tentando viver minha vida
Escrevendo, em silêncio, a página não lida
Contra a corrente, lutando na contramão
Me chafurdando na lama da minha solidão

Sinto os ventos do norte
A bagunçar meus cabelos
E fecho os olhos


Mylena Perez

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Verão

Hoje aprendi a amar
Revolto, dentro do teu olhar
Tudo o que faltava falar
Hoje me contou o mar

Brisa calma veio trazer
Vontade de algo novo fazer
Fez em meu peito crescer
O anseio por mais um prazer

Sol quente me fez sentir
Querer ter para onde ir
Correr, gritar, amar, fugir
Para ti, verão, não vou mentir

Onda que vem me molhar
Mensagem de amor trazer
Faz o meu verão voltar
Meu sol quente aparecer

Quem levou minha areia e meu mar?
Quem fez meu amor sumir?
Pro inverno eu não vou voltar
Com meu verão eu vou fugir


Mylena Perez

Poema

Um poema não é feito apenas de palávras
É feito de choro e também de riso
Escrever um poema é mais que ordená-las
É ter o dom de rimar lágrimas e sorrisos
É rimar o nunca e o sempre, o quente e o frio
É cantar o amor e o ódio sem cair em seus feitiços



Mylena Perez

Chamado

Idéias perdidas
Dispersas no ar
Idéias sem rumo
Livres a voar

Pensamentos sem destino
Flutuando ao luar
Com uma única missão
De vir me chamar

Me chamam pelo nome
Me chamam para dançar
Me chamam para ser livre
Para não ter medo de amar


Mylena Perez

Com o pé esquerdo

Há um dia fui a uma boate com alguns amigos e com meu primo após o trabalho. Acabei bebendo umas cervejas a mais e, bom, só me lembro de acordar em casa no dia seguinte sem minha gravata e com um bilhete no bolso. Era um guardanapo no qual estava escrito um telefone e o nome Júlia. Quem era Júlia? Meu primo estava praticamente desmaiado no sofá e tudo o que eu consegui que ele me dissesse foi, “Júlia lá da boate, não se lembra garanhão?” Como eu realmente não me lembrava achei que não havia sido nada de mais.
Faltavam apenas duas semanas para a minha viajem a Bariloche e eu havia passado meses juntando dinheiro para comprar meu primeiro par de esquis, então decidi ir à loja e comprar. Quando cheguei em casa meu primo já havia saído, e pelo jeito que ele havia deixado a cozinha imaginei que ele tivesse tentado fazer um das milagrosas curas para ressaca que habitam a mente do povo: o suco de tomate. Como o copo ainda estava cheio, imaginei que ele não sabia fazer e provavelmente bateu o tomate com sementes e tudo no liquidificador e ainda botou um temperinho para salada para dar um gostinho melhor. E pelas manchas no teto, que ele não deve ter encontrado a tampa do liquidificador e bateu tudo sem fechar, mandando a mistura direto do copo do aparelho para o teto recém-pintado do meu apartamento novo. Mas enquanto eu pensava num jeito mais simples do que provocar um tsunami de água sanitária para limpar aquela cozinha, que já tinha um dia sido branca, mas que agora mais parecia uma cena do filme “Suspiria” do Dario Argento de tão vermelha, algo aconteceu. O telefone tocou, e o diálogo a seguir dispensa explicações:

Eu (Gustavo): Alô?!
Júlia: Oi Tavinho, é Júlia.
(Eu pensei... “Tavinho”?! Ainda sem entender a gravidade da situação)
Eu: Oi Júlia, tudo bem?
Ela: Tudo, noooossa já faz um dia que agente... é... Achei que você fosse ligar antes.
Eu: Agente...?
Ela: Você não se lembra?
Eu: É claro que me lembro, eu ia te ligar agora sabe?
Ela: Ia? Agora?
Eu: Agorinha mesmo, na verdade eu estava com o telefone nas mãos para discar o seu número quando ele tocou.
Ela: É mesmo? Com o telefone nas mãos?
Eu: É.
Ela: Seu telefone é móvel, amor?
(Comecei a me preocupar nesse instante... amor?!)
Eu: Desculpa... o que?
Ela: Perguntei se o seu telefone é móvel!
Eu: Não. Por quê?
Ela: Por nada, é que se o seu telefone não fosse móvel, quando você o tirasse do gancho para discar meu número ele ficaria ocupado, e assim eu não poderia ter ligado para você. O seu telefone estaria ocupado para mim, e então não tocaria na sua casa. Você só tem uma linha , não é?
Eu: Só.
(Por nada “uma ova”)
Ela: E... Não tem nada para me dizer?
Eu: É que... Veja bem, eu ia te ligar, mas é que eu estou sem dinheiro ultimamente e não posso gastar com minha conta de telefone.
Ela: É mesmo?
Eu: É, não estou pagando contas, estou sem comer a dias, estão quase cortando minha luz e minha água e...
Ela: Você mente muito bem Tavinho, mas eu te vi hoje de manhã comprando um par de esquis numa loja no centro.
Eu: Esquis? Eu? Não, não comp...
Ela: Se você não comprou nada porque eu tenho uma nota fiscal de um par de esquis no seu nome? Ah! Por que depois que você saiu da loja eu entrei e peguei!
Eu: Ok, eu vou viajar para esquiar, mas eu não tenho que te dar explicação de nada. Eu nem me lembro de você, agente só passou a noite junto, eu estava bêbado e...
Ela: Porque você está mentindo para mim, e tudo o que nós temos juntos? E o nosso amor?A paixão? E o nosso futuro?
Eu: Que futuro? Agente nem se conhece.
(Comecei a me apavorar por que, lá pelo “nosso futuro”, a voz dela começou a ficar aguda e ela começou a chorar)
Ela: Não acredito, o único homem descente que eu conheço e...
Eu: Olha, eu adoraria ficar aqui te ouvindo falar, mas eu tenho que desligar porque eu ainda não consegui limpar a cozinha e eu vou sair para almoçar numa lanchonete, então..
Ela: É claro... é claro que eu quero ir almoçar com você numa lanchonete! Ahh! Que lindo, superamos nossa primeira briga.
Eu: Não, eu n...
Ela: Isso é mais um passo no nosso relacionamento. Quer saber? Eu passo aí na sua casa, te ajudo a limpar a cozinha e faço uma comidinha deliciosa para nós dois. Não precisa me buscar aqui não, eu já estou indo!
Eu: Mas eu não n...

Ela desligou telefone sem nem me esperar terminar a frase. Alguns minutos depois Júlia apareceu lá em casa, conseguiu limpar a cozinha toda em quinze minutos e fez um delicioso ensopado. Nós conversamos a noite toda e eu percebi que queria que aquela mulher louca que me manipulou tão bem pelo telefone me “manipulasse” para o resto da minha vida. Já se passou um ano desde essa história e ainda estamos juntos, Júlia me fez perceber que às vezes “não faz mal descer da cama de manhã com o pé esquerdo se for para dar o primeiro passo com o direito”. E foi assim que a minha “one night stand” se transformou numa “one life stand” !

Mylena Perez

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Versinho de Bolso

Poesia é lágrima da alma
Chuva que rega o coração
Poeta é nuvem se sentimento
De dor, paixão e ilusão

Mylena Perez

Ciclo de Poesia

A vida é suja
A vida cospe
O poeta sangra
A lágrima escorre
O poeta canta
O coração sofre
A poesia grita
É ouvida ao longe
Uma vida muda
Novamente chove
A lama suja
O que a vida cospe
O poeta sangra
A lágrima escorre
O poeta canta
O coração sofre

Mylena Perez

Estática

Correndo rápido
Sem sair do lugar
De trás para frente
Num ser/estar
Num infinito be, just being
Correndo, sem olhar para trás
Num pós-começo
Num pré-final
Num meio-termo cardinal


Mylena Perez

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Caminhada

Cresço
Forte como concreto
Frágil como uma flor
Doce como um morango
Suportando toda dor

Bato no peito
Um coração atende
Angustiado
Sem saber porque
Abandonado
Sem saber por quem
Seguindo, sempre,
Sem saber para onde


Mylena Perez

NoTuRnA

Quem me chama agora?
Quem pode ser a essa hora?
Acordo sozinha.
É escura e triste a noite.
Ah! És tu poesia!
Me deleito em teu açoite!

Mylena Perez

Noite de Poeta

Que fiz eu para merecer
A ti, noturna visitante?
Que faz meu corpo estremecer
Com tua dor, eterna e constante

Pois há uma faísca em teu olhar
Quando miras-me andar cambaleante
Que se estou cansado, se não agüento gritar
Desenha-se um sorriso em teu semblante

Será esse o mal do século,
A doença da alma inconstante?
Esse desejo estranho, chulo,
Essa vontade de sofrer pedante?

És conhecida dos grandes poetas,
Suicidas, mal amados e navegantes
És feita de emoções incompletas
Foste, de Byron, musa errante

Sob a luz do luar
Sedutora, és tu, desconcertante
Meu espírito a aprisionar
Com teu charme prestante

Que, em meu peito, encerra a certeza
De possuir, da palavra, o dom intrigante
Que em meus lábios pinta a beleza
Para poder cantar meu ser fascinante

Tu és melancolia tosca
Tua extrema força, alarmante
Fazendo a luz no fim do túnel fosca
Fazendo a vida irrelevante


Mylena Perez

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fim de Noite

Mandaram escrever um samba
Para alegrar um pouco a praça
Inspiração fugiu, amor
E o papel voou sem graça

A garganta secou
Não tem mais água na taça
A festa terminou, senhor
Não importa o que eu faça

Já a lua se escondeu
Foi beber sua cachaça
Meu violão sumiu, já vou
Vou curtir minha desgraça

Mylena Perez

Manhã de Saudade

Na areia da praia
Muitos grãos de verdade
Se a música pára
Só fica saudade

Da terra mais linda
De um povo fiel
Da morte, da vida
Do azul do meu céu
Da minha pátria querida
E até do gosto do fel
Da minha vida sofrida
Que desapareceu

Na areia da praia
Muitos grãos de sudade
Se a música pára
Eu perco a verdade


Mylena Perez

Amigo

Amizade, para mim, era só um passatempo
Ter alguém para conversar quando tudo passa lento
Depois de te conhecer, o sentido da amizade entendo
Querer passar cada segundo com alguém, todo dia, todo tempo

Mylena Perez

Aviso

Pela última vez
Meus poemas não são para ninguém
Não...Nenhum joão, Maria, nem Sônia
Escrevo para mim, que é só quem merece ler
Apenas compartilho com vocês minha insônia
Por isso, se algum verso rebelde não se fizer entender
Se alguma rima não soar como deve ser
Não ria, não ria de mim amigo
Se fazer poesia fosse fácil
Eu nãofaria tanta cerimônia


Mylena Perez

Saudade

Amargo é o gosto
É gosto de sangue
É gosto distante
Que nem se sente mais

É o gosto salgado
Da lágrima seca
Do grito não dado
Que não se apaga mais

É vento que voa perdido
É faísca que ainda arde
Desse sabor esquecido

É doce de tão azedo
É remorso inconsciente
De ter acabado cedo

Mylena Perez

Heil Gilberto


Já se passaram dois dias e ainda não acredito realmente que Gilberto tenha morrido. Recebi, na sexta-feira pela manhã, um telefonema da ex- mulher dele, comunicando sua morte e, desde então tenho tido flashbacks perturbadores dos momentos que passamos juntos. Nunca fomos muito unidos, eu e Gilberto, em boa parte devido à sua personalidade, com o perdão do eufemismo, “peculiar”. Mas dos poucos momentos que dividimos tenho ótimas recordações.
Gilberto sempre foi muito “diferente”, estudamos juntos boa parte da adolescência e também da juventude .Eu me lembro muito bem da primeira vez que o vi , seus pais haviam se mudado para a cidade e ele não havia feito amizades muito rápido. Eu nunca havia prestado muita atenção nele até que, na oitava série, durante um debate sobre as verdadeiras causas da segunda guerra mundial, Gilberto defendeu seus argumentos perante a turma com citações, em alemão, de um dos discursos de Hitler.
Na faculdade as coisas não foram muito diferentes. Ele tinha um modo único de defender suas opiniões e valores que, combinado com a sua coragem e com seu dom de “meter o nariz onde não era chamado” poderia até mesmo, sem muito esforço, convencer Isaac Newton a fazer uma deliciosa torta de maça com canela com a maça que lhe acertou a cabeça ao invés de formular a teoria da gravitação dos corpos.
Encontrar uma mulher não foi muito fácil para ele. Gilberto insistia em dizer que a mulher ideal para ele não deveria apenas saber cozinhar, limpar e passar suas calças conservando aquele estúpido vinco que ele tanto prezava, mas deveria também ser capaz de resolver equações de cálculos diferenciais, além de ter que saber dar um nó em um cabinho de cereja usando apenas a língua, qualidade essa que, segundo ele, somente as mulheres mais especiais possuíam. Era de se imaginar que ele nunca fosse encontrar esse raríssimo espécime feminino, mas Gilberto sempre conseguia o que queria e assim, conheceu Suzana.
Suzana lecionava cálculo numa universidade local e logo que conheceu Gilberto se apaixonou completamente. Dois meses depois de começarem a sair e depois de uma análise profunda da personalidade de Suzana feita por inúmeros psiquiatras amigos de Gilberto, ele a pediu em casamento. Suzana, apesar de não esconder o quanto as tendências neo-nazistas de seu futuro marido a preocupavam, aceitou o pedido e eles se casaram semanas depois, no civil apenas, pois Gilberto considerava todo e qualquer tipo de festa um abominável desperdício de dinheiro. Infelizmente, o casamento terminou em menos de três anos, quando Suzana, após dar a luz a um saudável par de meninos gêmeos, acordou pela manhã no hospital e descobriu que o seu amado marido os havia nomeado Adolf e Pétain de Souza.
Gilberto nunca se casou, nem sequer teve uma namorada após o divórcio e, embora fosse óbvio para todos que ele estava sofrendo muito, nunca admitiu. Após o enterro, eu arrombei a porta do quarto onde ele costumava dormir e roubei seu diário, ele escrevia diários desde os quinze nos, e eu achei que aquilo poderia me esclarecer muitas coisas sobre ele. Mas os diários, que faziam menos sentido que o que o próprio Gilberto dizia, apenas provaram que o orgulho fora a causa de sua morte. Um dia, pego chorando, havia afirmado ter um problema nos olhos e precisava de um laudo médico que validasse sua mentira. Era período de eleições e, ironicamente, Gilberto foi atropelado por um carro de som que tocava a propaganda política de um certo “partido socialista democrático” quando atravessava a rua para a sua consulta com o oftalmologista.

Mylena Perez

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

MARATONA

Um homem de aparentes quarenta anos, alto e de cabelos castanhos sai do cinema com uma expressão perturbadora. Já passa das onze da noite e a cidade está toda iluminada. Pessoas vão de um lado para o outro e, apesar da tão falada crise econômica, gastam seu dinheiro em lojas, boates e drogas como se não tivessem muito tempo de vida. Ele vai direto para casa, liga a televisão mas não dorme.
No dia seguinte ele vai ao trabalho, todos reparam nas suas olheiras profundas , mas ninguém ousa comentar com ele. Ele almoça olhando o relógio, termina o trabalho e volta para casa caminhando. Há um acidente em uma rua adjecente e ele perde muito tempo. Ele começa a ficar nervoso, a suar muito, seu rosto está vermelho e ele começa a correr. Seu celular toca, ele atende:

-Alô? Quem fala?
-É uma amiga da Julietta, ela me deu seu telefone, disse que talvez você topasse sair comigo hoje de noite.
-Não, eu agradeço a oferta , mas tenho algo muito importante para fazer hoje e já estou atrasado. -Ahh! Vai me dispensar assim?
-Assim? Assim como?
-Desse jeito.
-Eu ia, mas se você prefere outro jeito... Bom, não é você, sou eu...tenho um compromisso e você é uma mulher inteligente, tem homem mehor para você, me parece que...
-Fique quieto...nenhuma amizade vale tudo isso... sorte para a Julietta, vai ser muuuuuuuuuuuuito difícil encontrar uma mulher para você.(desliga na cara dele)

Ele guarda o celular como se nada tivesse acontecido, mas quando olha para o relógio, já são oito e quarenta e cinco.O suor começa denovo, ele corre o máximo que pode em direção a sua casa. No caminho uma senhora é derrubada por ele, ele ainda anda alguns metros,mas sua consciência não ajuda, ele tem de voltar atrás. Ele volta, levanta a senhora, pede desculpas, passa uns cinco minutos ouvindo a mulher reclamar sobre como ele não olha por onde anda e etc... Enquanto a senhora fala ele não realmente presta atenção. Ele olha bem para o rosto dela , ela tem os cabelos brancos, é magra, tem a pele branca e enrugada e olhinhos azuis bem apagados. Ela parece alguém que ele conhece , mas ele não consegue se lembrar, ele se esforça. Seria alguém do trabalho? Alguém que ele viu na rua? Alguém da família? Mas ele não tem muito tempo , a mulher termina a bronca, bate nele com a bolsa e sai.
Todo esse esforço para se lembrar de onde ele conhecia a mulher o fez esquecer do atraso. Ele olha o relógio, Oh my God, já eram oito e cinquenta e cinco e ainda falatavam duas quadras para chegar em casa. Ele corre o mais rápido que pode, mas ainda há uma rua a ser atravessada e há tantos carros passando que ele tem que esperar. Assim que o sinal fecha ele corre, corre por entre alguns carros, pula por cima de outros, empurra pessoas, mas não olha para trás nem uma vez. Só falta uma rua, ele tropeça, há sangue pingando de seus joelhos, mas ele se levanta e continua correndo. Para ele, chegar em casa é uma questão de vida ou morte.
Ele já pode ver o telhado de sua casa, é um alívio. Uma última olhada no relógio revela o meio minuto que falta para as nove horas da noite.Ele entra em casa, fecha a porta, senta no sofá, liga a televisão e... Um último arrepio percorre seu corpo quando ele olha para a televisão. Ainda não havia começado a maratona de Francis F. Copola, era o dia de "O Poderoso Chefão I, II e II" que ele havia esperado tanto. Durante aquela noite o telefone tocou algumas vezes, muitas eram ligações de amigos que o haviam visto pular por cima de carros nas rua, mas ele não atendeu. E pensar que ele poderia ter se atrasado !



Mylena Perez

sábado, 8 de novembro de 2008

Hoje


Hoje nuvens cobriram toda e qualquer estrela
A chuva em meu corpo choveu lágrimas
O sangue em minhas veias parou
Meus versos chamaram
Estrofes choraram

Hoje sangue cobriu toda e qualquer certeza
Meus versos choveram lágrimas
Minhas estrelas pararam
A chuva chamou alto
Por minhas estrofes choradas

Mylena Perez

Ser ou não ser?


Não entendo nem tento
Não ter querendo, ter não querendo
Sentir não sentindo, viver não vivendo
Assino sem ler e sem saber aprendo
Ser ou não ser? Responder?
You might try to answer, eu nem tento

Mylena Perez

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Do amor

Amor, maldito e vil amor
Consola este coração por ti mesmo traído
Seca as lágrimas que fizestes brotar
Em meio à ilusão dos sentidos

Amor, vário e ingrato amor
Cicatriza as feridas de meu orgulho partido
Ouve o clamor de minh’alma abandonada
E não ignores a ajuda que a Ti tenho pedido

Amor, falso e cínico amor
Disseram-me que estendes a mão ao homem perdido
Só se estou cego e não a vejo
Em meio à dor do meu ego ofendido

Amor, ingrato e egoísta amor
Onde está o futuro que me tens prometido?
O tomastes para si, covarde
E dele todo este tempo tens vivido

Amor, tosco e imundo amor
Carrega esse asqueroso fardo contigo
Fardo de loucos, de apaixonados e de poetas
Que estou fadado a levar comigo

Amor, pernicioso e maligno amor
Que apagou de minh’alma o colorido
Não apague a luz da minha esperança
Cujos valores, destruir tens conseguido

Amor, grotesco e falho amor
Passa de mim esse cálice dolorido
Que forças não tenho nem para investir
Nem para consumar esse amor perdido

Amor, soberbo e altivo amor
Que dos homens tem se rido
Esquece desse pobre sofredor
Que os sentimentos tem reprimido



Amor, sombrio e violento amor
Que me acorrenta a lábios antes esquecidos
Encerra em meu peito ofegante o sagrado punhal
De beijos e toques não proferidos

Amor, enganoso e ilusório amor
Em tua pegajosa teia tenho caído
Preso em sensuais delírios me vejo
Por suas sedutoras artimanhas rendido

Amor, mórbido e macabro amor
Às tuas forças tenho sucumbido
Leva da vida esse corpo insepulto
De seus pecados e prazeres arrependido

Amor, sádico e cruel amor
Que a sórdidas lágrimas tem minha existência restringido
Rasga minha alma, nua, fragilizada
E despedaça para sempre esse coração sofrido

Amor, contraditório sentimento
Fizeste de refém meu coração
E agora te vejo doce, puro e santo
Apesar de tão doloroso tormento

Amor, simples e belo amor
Explique-me o que estou sentindo
Que vejo flores onde só há destruição
E o cinza da cidade vou colorindo

Amor, terno e doce amor
Que fazes tu comigo
Que me esqueço de toda dor
E inconseqüente te sigo?

Amor, honesto e sincero amor
Que parte tenho eu contigo
Que invades meu coração sem pedir
E te tornas amante e melhor amigo?

Amor, puro e santo amor
Que leis terei eu infringido?
Derrama sobre mim teu bálsamo dourado
E destrói a tristeza na qual tenho vivido

Amor, bendito e sábio amor
Que iluminas o chão onde piso
Volta a tocar meu pobre coração
E enche outra vez meus lábios de riso

Amor, querido e fiel amor
Comova-me com teus beijos e gemidos
Envolvam-me em teus sussurros lentos
E toques antes nunca sentidos

Amor, extremo e intenso amor
Em tuas asas perco os sentidos
E envolto no teu torpor
Perco-me em desejos proibidos

Amor, denso e ardente amor
Que recita poesias ao pé-do-ouvido
Conquistas-me dia a dia
Com teu romântico ruído

Amor, sensível e consolador amor
Afastaste todo ódio sentido
Tomaste meu coração para sempre
E o fizeste livre, rendido

Amor, completo e perfeito amor
Que a minha vida estejas sempre dirigindo
Pois como eu, és doce sendo amargo
E eterno sendo findo

Amor, vital e eterno amor
Que resume a vida a apenas um sorriso
Se somente as lágrimas invocam tua face
Choro, mas por Ti, pois és tudo que preciso


Mylena Perez

Martírio

O sangue, negro, pinga aos poucos da minha alma
Pois teu olhar é a espada que penetra meu peito
Enquanto meu corpo, podre, se decompõe em dor
A minha vida lentamente se esvai
Os golpes que me derrubam vêm da tua boca
E eu vou, pouco a pouco, me envenenando em teu suor
Em meus lábios pálidos ainda arranham teus beijos
Ásperos de ódio e mórbido prazer
Esquartejando toda e qualquer esperança
Torturando-me no eterno martírio que é te amar
Em meus olhos ainda correm memórias tuas
E como um forte vento ameaçador
Sopra a brisa de um suspiro teu
Que estremece meu corpo e arrepia meu espírito
Que vem com a fúria de uma tempestade
Fazendo cessar meu pesado fôlego
Fazendo-me em tua imagem naufragar
Mylena Perez

Acerto de Contas

Devo a Goethe minha melancolia
E a Bocage a sensualidade
A Platão minha obsessão por Sócrates
E a Leminski a criatividade

Devo a Kafka minha fantasia
E a Castro Alves a liberdade
A Vinicius de Morais meu amor pelo Rio
E a Quintana minha simplicidade

Devo a Álvares de Azevedo a nostalgia
E a Eça de Queirós a realidade
A Sheakspeare todo o meu sentimento
E a Frei Betto a imparcialidade

Devo a Cruz e Sousa minha sinestesia
E a Fernando pessoa minha multi-personalidade
Devo a outros autores tudo o que já escrevi
E a uma efêmera inspiração minha eternidade

Mylena Perez

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ela e eu


Ela que nunca nasceu
Ilesa se perdeu
Idéia nua, confusa
Ela, minha medusa

Eu impotente
Inspiração decadente
Ícaro morto, fervente
Eu inocente

Mylena Perez



domingo, 6 de abril de 2008

Pôr do sol

O sol começava a se pôr e a mulher esperava a hora de buscar os filhos na escola. Era um fim de tarde calmo e quieto, além disso, do décimo terceiro andar de um prédio −onde ela morava− não era mesmo possível ouvir os mínimos barulhos da cidade. O marido, sentado à mesa, lia pacientemente cada página do jornal do dia, e a mulher resolveu ir para perto da janela.
Talvez fosse algo particular daquele fim de tarde, ou talvez fosse apenas a sua imaginação, mas a mente da mulher começou a divagar, e aos poucos ela se distanciava cada vez mais do apartamento. A cidade parecia tão triste lá em baixo, o colorido se perdia em meio ao concreto. Os tons melancólicos de cinza reinavam soberanos, verde só havia mesmo na pintura de algumas casas. A fumaça dos carros tornava tudo denso e confuso.
Agora o sol de fato se punha e de repente um tom castanho-alaranjado invadiu o cenário. A cor refletiu nos alumínios das janelas e coloriu a fumaça. Pequenas casas brancas tornaram-se amarronzadas, feixes de sol dourado brilhavam nos carros. O verde das casinhas tornara-se mais intenso e agora contrastava fortemente com o vermelho dos aterros ao longe. O dourado do sol tornou-se vermelho, laranja, marrom e bem devagar se dispersou num azul celeste que acabava de surgir no horizonte. As cores vibrantes foram se suavizando e o sol se pôs totalmente. Um azul marinho tomava a cena quando subitamente a mulher foi jogada de volta à realidade pela grossa voz do marido que perguntava as horas.
Ao olhar de volta para a janela o melancólico cinza havia voltado, a fumaça embaçava o céu novamente e as cores eram mais uma vez reféns do concreto. A mulher olhou o relógio, já era tarde e a aula das crianças já havia terminado há algum tempo. Ela estava atrasada, pegou as chaves e saiu de casa. O marido achou estar frio e fechou a janela. Em que página do jornal ele estava mesmo?!

Mylena Perez

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Marcha Fúnebre

Desolado ele encostou-se no piano. Todos diziam que ele deveria esquecer aquilo, mas no seu coração tudo permanecia o mesmo. Já haviam se passado anos, mas seu coração parecia não aceitar que ela nunca mais voltaria. Ele conservou toda a casa intocada, do jeito que ela havia deixado ao sair. E era como se a casa e ele ainda esperassem que ela voltasse. As lágrimas grossas e pesadas teimavam em escorrer- lhe pelo rosto e as imagens e lembranças dela teimavam em passear pela casa. Parecia que a única coisa que não esperava a volta dela era o maldito tempo que insistia em passar e aos poucos separar cada vez mais a sombra da beleza que sua amada um dia tivera.
Por momentos a casa vazia parecia encher-se de risos e o doce som daquela finada alegria vinha perturbá-lo. Era como se tivesse sido tudo apenas um sonho triste, mas a realidade sempre o trazia de volta e o silencia sempre voltava. Os risos, os toques, os nomes, tudo se desmanchava noite adentro. E o silêncio triste, a agonia e a desolação sempre voltavam.
Como poderia esquecê-la? Como poderia? Como? Era como se ela fosse voltar a qualquer momento. Ela entraria saltitante pela porta, lhe daria um beijo, ajeitaria a flor branca presa aos cabelos e tudo voltaria ao normal. Mas ele a havia esperado tanto, tanto, ele já havia tentado fazer seu coração aceitar a verdade, mas somente a idéia de nunca mais vê-la, beijá-la ou tocá-la lhe parecia inconcebível.
Naquela tarde junto ao piano ele tocou, tocou como se ela estivesse lá.Como se estivesse sorridente a seu lado ouvindo a música. Ele tocou para ela, e de repente ela estava lá mais uma vez. Ele tocava feliz, e a melodia invadia seu coração, ao olhar no fundo de seus olhos negros ele compunha. Talvez ele não tenha percebido a mudança, talvez as lágrimas não tenham querido escorrer, mas acho que seu coração no meio daquela música aceitou o fato. E quase sem perceber a composição, antes tão alegre, foi se transformado numa marcha fúnebre e em meio a graves notas e lacrimosos sustenidos seu amada tornou-se fria e branca. Seus olhos perderam a vida, seu sorriso perdeu o significado e o vulto pálido que era antes tão nítido aos poucos desapareceu. E ao final da triste música já nada restara onde antes estava sua amada. Talvez ele tivesse apenas imaginado, talvez seus olhos, embaçados pelas lágrimas, o tivessem enganado, mas seu coração aceitou, ela não voltaria. Levantou-se do piano, abriu as cortinas e lavou o rosto. Esqueceu.


Mylena Perez

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Última poesia

Última poesia passeia em meus olhos fechados
Seus versos refletem luz do luar
Eu a perdi já faz muitos sonhos
E nunca mais pude suas estrofes formular

Ainda hoje me assombra
E é como se dela eu não pudesse me livrar
Noites de gritos, suspiros e frases
Ainda essa vã procura a me torturar

Lágrimas chovem sobre meu corpo nu
E é como se uma nuvem me acompanhasse
Enquanto corro pelas ruas da minha memória
Em busca apenas de uma lembrança relevante

Opiniões, pensamentos, nada parece real
Não há luz no fim do túnel, somente escuridão
Talvez seja a minha consciência (ou a falta dela)
Que imprima sonhos em minha insônia constante

Perco-me num beco escuro da minha mente
Uma lembrança me faz de refém
Um mistério, um eco, um tiro no escuro
O suicídio de uma mentira no silêncio se mantém

Uma folha branca se ilumina em sonho
Tinta! Terna poesia vem me acordar
Acordo do sono sem nunca ter dormido
Para uma última poesia terminar

Mylena Perez

Ela

Era tarde quando cheguei
Estrelas não brilhavam mais
A noite estava escura e fria
A chuva fina incomodava
Seu corpo meu coração acelerava
Seu sangue escorria em minhas lágrimas

Mylena Perez

Fúria

Que chova
Que caiam Raios
Que se revoltam mares
E que gritem crianças
Que morram velhos
E que tudo sejam perdidas esperanças
Que tudo fique assim
Que o destino jogue os dados
Que gritem crianças, e que gritem alto
Que fique tudo escuro então
Mas que eu não acorde
Que não seja o pesadelo mais sonho que a dura realidade
Que doa ainda mais nos homens que sua própria perversidade
Que chova. Que chova sangue
E que chova sobre o mundo, que jorre do mundo
E que seja destruída aos poucos a humanidade
Quero mesmo é que seja consumida em sua eterna iniqüidade

Mylena Perez

domingo, 23 de março de 2008

Toca em mim

Toca em mim Senhor, toca de novo
Como o Cego em Betsaida, renova a minha visão
Toca em mim Senhor, toca de novo
Vem Espírito santo
E sonda meu coração

Porque tudo o que sou, eu devo a Ti Senhor
Porque tudo o que eu tenho a Ti pertence
Eu Lhe devo a minha vida
Pois das Trevas me salvou
E livrou-me do jugo do pecado

Toca em mim Senhor, toca de novo
Como o Cego em Betsaida, renova a minha visão
Toca em mim Senhor, toca de novo
Vem Espírito santo
E sonda meu coração

Eu quero ser usado com tudo o que sou
E através da minha vida exaltar o Teu nome
Pois Teu precioso sangue as minhas vestes lavou
Quero Te adorar de todo o meu coração

Toca em mim Senhor, toca de novo...

Mylena Perez

Sentimentos Escondidos

Tanto fiz questão de escondê-los
Que quase os esqueci
Entrego-lhe os malditos agora
Insólitos sentimentos apodrecidos

Como ácido me corroeram
E pouco a pouco me devoraram
Agonia de lágrimas secas, gritos mudos
Madrugadas de Frases inacabadas

Beijos nunca dados perseguiam-me em sonhos
Amores insepultos de uma mente putrefata
Decompondo-me ainda em vida, assim eu me encontrava
Sentimentos sanguessugas da minha vida se alimentavam

Por toda minha existência, em meu mórbido peito cerrados
Encontravam-se os tais sentimentos, e eu julgava-os bem guardados
Apossaram-se de mim e torturaram-me até libertá-los
Ai do mundo por onde agora passeiam esses malditos inacabados

Sentimentos que aprisionados em meu peito morreram
Ressurgem sem alma em busca de um novo hospedeiro
Ilusões que nos doentios caminhos da minha mente se perderam
Escolhem a vitima de seu próximo tiro certeiro

Sem esses bastardos sentimentos secretos
Minha dobre mente reluta em divagar
Devo esquecer meu passado de lacrimosas memórias?
Futuro. Que dores terríveis reserva ele ao meu cadáver que a morte não vem buscar?!

Mylena Perez

Despite my Love

Tears, a thousand bloody tears
I’ve already cried so much
I’ve lost so many years
Baby, I’m feeling so alone
Haunted by all my fears
In this darkness of my own

(Chorus)
And these insane feelings are trying to push me down
Despite all my love for you, I’m holding on
If I make you happy by letting you go, I’m “gonna” move on
Despite all my love, despite all my love for you

Time, I’ve wasted so many time
Thinking ‘bout the love we had
Or just thinking on you
And all my world keeps falling down
The future I thought we could have
It’s now so far away

And these insane feelings are trying to push me down
Despite all my love for you, I’m holding on
If I make you happy by letting you go, I’m “gonna” move on
Despite all my love, despite all my love for you

Dreams, I had so many dreams
Every night I dream about you
‘Bout the things we could have done
Baby, your eyes are my shining stars
Without you I’m in the dark
And hope is just a dream

And these insane feelings are trying to push me down
Despite all my love for you, I’m holding on
If I make you happy by letting you go, I’m “gonna” move on
Despite all my love, despite all my love for you

And I will move on, but I won’t pretend I don’t care…

Mylena Perez

A Última Fábula

Trinta páginas ele havia escrito. Mas sobre quem? Sobre ela, sobre ele, sobre mães, filhos, mortes, amores... Sobre o que eram não importa agora, elas acabaram amassadas e rasgadas mesmo! A caneta parece escorregar da mão dele toda a vez que a segura. Com tanta coisa acontecendo a inspiração parece vir apenas pela metade. Nada parece estar completo, nada parece querer se completar. Numa sociedade aonde tudo já vem pronto ele não consegue mais criar, nada é original, tudo é copiado. E ele está ficando louco. O suor escorre da sua testa e pinga na folha branca cheia de rabiscos. Rabiscos, isso é tudo o que ele consegue fazer. Nenhuma história, nenhuma piada, nenhuma poesia, por menor que seja. Sua mente está cheia de idéias que parecem relutar em serem executadas. Tudo parece tão lindo quando em sua mente, mas quando ele pega a caneta, nada se concretiza. Assustadas pela crueldade do mundo, as palavras correm em busca de um esconderijo. Canções, fábulas, princesas e cavalos alados fogem horrorizados pela indiferença da sociedade. Na mídia, o único modo de fugir da realidade é criar outra pior ainda. Tiros, mortes, sangue, muito sangue e após os créditos o suspiro aliviado de pensar que não foi com você. Ele chora por não poder, como antigamente, fugir da realidade para reinos e bosques encantados cheios de prosopopéias. Ele chora pelo endurecimento dos corações do mundo e por ninguém ter percebido antes. Era tudo tão fácil, tão simples como as poucas palavras numa canção singela, como suspiros de donzelas, príncipes encantados e rosas. Hoje ele não consegue escrever, mas e se conseguisse quem leria? Você leria? E se ele conseguisse escrever como nas antigas histórias de amor, recriar cinderelas, fazer de assassinos feiticeiros, de cidades palácios, transformar prostitutas em donzelas? E se ele pudesse? E se ele? E se?
Assim ele pensou, e num último e desesperado esforço se trancou num quarto de hotel com lençóis brancos e pôs-se a escrever. Desligou as luzes, acendeu velas e criou uma história −a seus olhos− como nenhuma feita antes. Uma história divertida e que tinha uma moral, uma história que nela era fábula, canção e poesia. Apaixonou-se pela donzela, odiou o vilão, montou nos cavalos, e afiou as espadas. Tudo estava pronto, exceto os leitores. Ele foi à rua, tentou vender sua história já impressa. Nada aconteceu. Todos estavam muito mais preocupados com seus trabalhos e seu dinheiro. Se parassem poderiam ser assaltados, não é mesmo? Imagine se alguém gastaria um pouco de seu precioso dinheiro numa história tão antiquada!
Crianças! Pensou ele, crianças gostam de fábulas! E foi a uma escola, lá haveria muitas crianças, crianças não seriam atarefadas. Crianças são afinal, o futuro da nação, elas ainda estão aprendendo sobre a vida, são o público perfeito para a minha fábula, pensou ele!
Ao chegar naquela escola não tentou vender sua fábula, pois sabia que crianças não teriam dinheiro para comprar. Ele resolveu dar sua fábula, fazer um sorteio parecia divertido. Distribuiu papeizinhos e escolheu um nome. Muito contente, um menino de aparentes seis anos foi à frente da classe. “Aqui está o seu prêmio” disse o homem. O menino olhou para o bloco de folhas coloridas muito surpreso, leu o início, folheou procurando por figuras e muito decepcionado com seu “prêmio” disse ao escritor: “Que horror! É só isso? Pensei que fosse ganhar um videogame, isso aqui não me interessa não!” e amassou o bloco de folhas grampeado com tanto carinho pelo homem. O escritor juntou as folhas amassadas de sua história e se foi.
Videogame!? Então quer dizer que nem às crianças vai servir a minha história? Pensou ele. Ele voltou ao seu quarto e à sua amargura. O que mais ele poderia fazer? Será que não haveria solução para o egocentrismo de uma sociedade que desde pequena é ensinada a tomar paliativos instantâneos ao invés de encarar o problema? Ele não conseguia entender, simplesmente não conseguia mais agüentar a pressão de desperdiçar seu talento com um mundo que lhe era indiferente! Alguns dias se passaram e sem encontrar outra solução o escritor organizou, desamassou, grampeou novamente sua história e voltou com ela ao limpo, branco e impessoal quarto de hotel onde a escreveu. Um felpudo carpete branco estendia-se por toda a extensão do quarto. Era tudo tão limpo e impecável. Num movimento inesperado até mesmo por ele, o escritor abraçou sua história com todo o carinho de alguém que havia pensado ter escrito a salvação da humanidade e deu um tiro na cabeça! Seu corpo caiu no carpete branco e seu sangue manchou as folhas de sua história tão preciosa. O sangue pingou e pingou durante muito tempo, escorreu pelo carpete durante três dias até que o corpo do homem fosse encontrado. O que aconteceu quando o encontraram? A polícia levou o corpo, fechou o caso, pois o suicídio era óbvio e foi embora do local. Os empregados removeram o carpete branco e colocaram outro no lugar, limparam todo o quarto, trocaram os lençóis, jogaram a sua história no lixo do banheiro, levaram o saco de lixo embora e entregaram as chaves para os próximos hóspedes.Nada mudou.
Mas não se preocupe muito amigo, essa história não tem nada a ver com você ou comigo. Afinal ela foi baseada numa sociedade muito diferente da nossa, que tem guerras sem motivo ou com motivos muito diferentes dos nossos, que tem pessoas com problemas muito diferentes dos nossos e que tem um governo com tecnologia, ambições, idéias, religião, censura e cultura muito diferentes das nossas! Então talvez não haja motivo para preocupação. Talvez não haja. Talvez não. Mas apenas talvez.

Mylena Perez

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Girassóis

Mil noites estreladas
Brilhavam cor em seus sonhos insanos
E para pintar belas paisagens
Viveu seus últimos anos

Seu mundo amarelo
Mergulhado na escuridão
Seus girassóis despedaçados
Seu coração partido então

Perseguido por sua própria mente
Buscava refúgio na arte
Cada obra e ideologia era dele uma parte

Entre cores escuras e vivas foi perdendo a voz
No campo restou apenas o vermelho de seu sangue
E sobre o seu corpo, Girassóis



Mylena Perez

sábado, 22 de dezembro de 2007

Sereia

Tão pequena e inocente
Estás sozinha e indefesa
Da beleza és realeza

Pureza em propostas indecentes
Decisões tens a tomar
Vejo medo em seus olhos luzentes
Vejo mil faces descrentes

Olhando a sereia a nadar
Nas ondas do mar do mundo
Vejo densa espuma de problemas
Mas és corajosa, não há nada que temas
Na vida mergulhas sempre ao fundo

Gloriosas conchas tens como coroa
Tens como vestes as algas do mar
No oceano da vida estás livre a nadar
Só o pássaro da morte tua vida sobrevoa

By: Mylena Perez

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Vanessa

Vanessa

Vanessa que danças em minha mente
És minha eterna ilusão
Não possuis forma ou destino iminente
És vulto negro em meu coração

Seu corpo pálido, tal como tela ainda limpa
Não exprime nenhuma reação
Em minhas mãos tenho pincel e tinta
Em teus olhos promessa de eterna solidão

Fazes parte de mim como faço parte de ti
Tentativas de dar-te passado e futuro correm em vão
Tentando encontrar-te me descobri
Confundem-se autor e personagem nessa estranha obsessão

Imaginário amor platônico por ti confesso que sempre senti
Vanessa. Ilustre ou sombrio ser inanimado?
Desisto de tentar dar forma alguma a ti
Não posso criar algo se já foi criado


By : Mylena Perez

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Poesia Sem Nome


No fundo da gaveta ela aguarda um coração
Um coração que se sinta amado pelas palavras nela escritas
No fundo da gaveta ela aguarda um coração
Poesia sem nome, em seu recanto de solidão

No escuro onde foi escondida, as lágrimas mancham seu texto
Lágrimas que correm a esmo, que correm sem pretexto
No fundo da gaveta ela aguarda um coração
Poesia sem nome, em seu recanto de solidão

Às vezes pensa nunca ter sido amada
Apesar do amor que demonstrou por todos, era como se não fosse notada
No fundo da gaveta ela aguarda um coração
Poesia sem nome, em seu recanto de solidão

Quando ela foi escrita, seu autor nela pôs seu coração
Mas o tempo passou, e agora aqueles que antes a liam cheios de emoção
Lêem-na rindo-se, em tom de gozação
No fundo da gaveta ela aguarda um coração. Poesia sem nome, em seu recanto de solidão

Quem dera agora dar-lhe um nome que servisse de consolação
Mas na falta deste se dirá: Poesia triste. Eis aqui o seu refrão
Poesia triste, no fundo da gaveta ela aguarda um coração
Poesia morta, em seu túmulo de solidão




(Mylena Perez)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Última Chance

Última Chance

Ela pensa nele todo o tempo. Talvez ele não faça o mesmo, talvez faça. Ela não o vê há meses. Seu coração está “apertado”. Ela sempre o amou. Dele não se pode dizer o mesmo com certeza. Ele tem outras. Ela tenta tê-los. Nada parece fazer sentido sem ele. A vida dela é uma incessante rotina sem fim. Seus sorrisos não são verdadeiros. Nem suas lágrimas possuem vida. Ela o ama tanto, que não se ama sem ele. Ela é apenas uma mancha no tecido da vida. Ela faz de um tudo para tê-lo novamente. Ela não vê sentido em continuar vivendo. Vive por inércia somente. Não existem para ela, prazeres sem ele. Ele diz que um dia ficarão juntos. Ela prefere que “um dia” seja hoje.
Ela o encontra. Seus olhares se cruzam. Ele desvia o dele. Ela diz que o ama. Isso estabelece um longo período de silêncio. Os olhos dela se enchem de lágrimas. Ele “desconversa”. Ela recomeça o assunto. Ele diz que a ama de outra forma. Ela deixa escorrer uma única lágrima. Ele a abraça com força, mas não a beija. Ela o afasta. Ele se irrita. Ele diz que ela deve aceitar o seu destino. Ela toma a palavra para si. A mente dela divaga. Eles se despedem. Ele se vai. Ela corre para o centro da cidade. Ela se lembra da bonita frase dita por ele: “−Você deve aceitar seu destino”. Ela repete a frase incessantemente dentro de si mesma.
Já é noite. A vista do trigésimo terceiro andar é linda. As casas e prédios parecem vaga-lumes lá de cima. Ela pensa nele. Ele está no primeiro andar. Ela não sabe. Ele está arrependido. Mentalmente ele ensaia juras de amor eterno. O elevador está quebrado. Ele sobe as escadas tranquilamente. Ela abre os braços. O vento bate em seus cabelos loiros. Ela luta contra a inércia que a domina. Ela fecha seus olhos azuis. A única luz ao seu redor é a do corredor que leva às escadas. Lá em baixo os faróis dos carros parecem chamar seu nome. Ele está agora no trigésimo andar. Ela está na ponta dos pés. Ele está no corredor. Ela repete a frase em voz alta uma última vez: “−Você deve aceitar seu destino”. Ele ouve. Ele a vê. A noite a chama. Ela pula. Ele grita apavorado. Ela o ouve e grita. Ela se arrepende. Seu destino se cumpre. Ele deita no terraço a chorar. Ele ainda tem a chance de ouvir o som do corpo dela bater no chão. Ele desce as escadas correndo. Na calçada o desespero é geral. Ela não está reconhecível. Há muito sangue. Há sangue na calçada e na rua. Uma chuva fina lava o sangue do seu corpo desfigurado. Ele deita seu corpo sobre o que restou dela. Sua pele branca é marcada pelo sangue dela.
Ele “apaga”. Quando ele acorda a luz está forte. Ele está em seu quarto. Não há sangue nem gritos. Ele olha para o relógio. Ainda são nove horas da manhã. Ele olha o calendário. Ainda é quarta-feira. Mas como?! Ele tem o prazer de perceber que foi tudo um sonho! Ele corre como nunca antes até a casa dela. Ele grita em sua janela. Ela não entende. Larga a xícara de café e vai até ele. Ele se declara. Eles choram. Ele a abraça muito forte, mas dessa vez ele a beija. Ele pede desculpas. Ela pergunta por quê. Ele diz que já não importa. Não valeria a pena contar. Nem todos têm uma última chance como eles tiveram.


Mylena Perez (08 e 09 12 2007)

O que é?

O que é?

"O que é um amor sem lágrimas?
Um amor sem restrições?
Sem jogos e sem enganos?
Sem lascívia?
Sem egoísmo?
Sem mágoas?
Querendo, mas sem querer?
Sem ciúme?
Sem dor?
Sem todo esse "ser ou não ser" ?
Sem suor?
Sem suspiros?
Sem reclamações?
Sem exigências ou frustrações?
Sem compromisso?
Frágil e quebradiço?
Sempre à nossa disposição?
Um amor inacabável?
Incontável?
Incomensurável?
Um amor inocente?
Às vezes inconseqüente?
O que é ?
Seria como o da gente?
Um amor perfeito seria como o nosso?
Então um amor perfeito é a exata descrição de uma amizade verdadeira!"
Mylena Perez

Dois em Um

Dois em Um

Meus olhos choram as suas lágrimas
Minha boca suspira a sua frustração
Meu coração bate no seu compasso
E assim somos um, sendo dois

Meu futuro, seu futuro também
Seu olhar ofusca a minha dor
No meu corpo, suas marcas
Minha tristeza estampa a sua partida

Sem você a escuridão me domina
Sem seus olhos os meus perdem a cor
Seu coração, minha força de vida
Impulsiona-me a esquecer a dor

Em meu coração, um fio de esperança
Única luz de meu tortuoso viver
Por você continuo esperando
Por você, por nós dois


Mylena Perez (07 12 2007)

Você

Você

Minhas lágrimas têm um pouco de você
Nos meus olhos carrego sua essência
Seu olhar penetra a minha alma
Minha dor transporta-me a você

Sem você não acredito no futuro
Por você sacrificaria tudo
Sua luz ilumina meu caminho
Sua voz acalma meu espírito

Você prometeu nunca me abandonar
E agora meus dias se passam escuros
Acho que você nunca prometeu não me fazer chorar

Tudo o que eu preciso é você
Tudo o que eu mais quero é você
Não me importo com a dor, sei que nunca vou te esquecer



Mylena Perez ( 07 12 2007)

Triste Fim

Triste Fim

Ele sai da casa dela ainda com muita raiva. Bate a porta e finge não ouvir os gritos dela ao longe. A noite está fria e escura. O céu, azul, não mostra possibilidade nenhuma de chuva. Ele sobe na sua moto e segue até a estrada. São duas da manhã. A estrada e ele se tornam um, não há mais ninguém em volta. Ele acelera. Por fora, sua expressão de ódio é a mesma. Por dentro, seu coração bate como nunca antes. A velocidade o emociona. Uma lágrima quente escorre de seu rosto, mas é esfriada pelo vento que gela sua pele e balança seus cabelos.
Ele se sente sozinho, abandonado. Não pensa nela. Acelera de novo. O vento parece cortar-lhe a face. O céu está diferente. Ele mal percebe a chuva dada a força do vento. Em meio à velocidade ele sente uma gota. E outra, e outra. A chuva “aperta”. Sem nem saber o porquê, ele acelera mais. É como se não pudesse mais se controlar. A chuva está muito forte. Há água em seus olhos azuis. Ele só pensa nela, na velocidade. Acelera outra vez. A estrada está muito molhada. Há água por toda a parte. Ele mal consegue manter os olhos abertos.
A moto derrapa. Ele “apaga”. Ele e a moto são jogados a muitos metros. Ele acorda. Não sabe quanto tempo passou. A água em volta dele está vermelha. Ainda há muita chuva. Ele está deitado sobre uma poça de sangue. Não pode se mexer. A dor é intensa. Ele está preso à moto. Não pode sentir seus braços ou pernas. A água cai com força em seus olhos. Ele os fecha com dor. Há sangue neles também. Ele ouve algo. Reconhece os gritos. É ela. Ela está sozinha. Os dois estão em pânico. Ele não consegue mostrar que está vivo. O sangue mancha o vestido dela. Ela o beija. O sangue mancha seu rosto. Ela levanta. Ele pensa nela. As rodas da moto fazem seu último som. Pela última vez ele pensa nela. Ele se sente leve. Ela grita. Ele não a ouve mais. Ele grita. Ela não o ouve mais. Ele se vai. Ela desmaia. Ambos desejam que aquela briga nunca tivesse acontecido.


Mylena Perez

Poeta Maldito

Poeta Maldito

Destilas ódio
Fecundas corações
Boca, papel e tinta
Com teu pólen de ilusões

Aceso o luar de teus olhos
Apagas estrelas com palavras
Cultivas teus versos com lágrimas
Flores da melancolia que lavras


Estás aprisionado em ti mesmo
Liberdade não é uma opção
Por isso frases correm a esmo
Vem direto do teu coração


Letras lacrimosas
Tu escreves a chorar
Doce essência de murchas rosas
Só tu poeta maldito, não as teme usar


Mylena Perez (10 12 2007)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Relato Impossível

O suor pinga de meu corpo
Pinga assim também minha vida
Que me pequenas gotas de suor
Aos poucos se esvai

Gotas de suor
Que estão imersas em tristeza
Gotas de sentimento
Lágrimas de suor

A noite vela a minha passagem
A chuva cai, purificando-me
E num vívido ímpeto
Minha doce alma, de minha pálida carne se desprende

Um som estranho
O pranto longínquo de meus conhecidos
Entorpecimento versus dor
O relógio da vida pára, a jornada termina



(Mylena Perez)



quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Labirinto de Pensamentos Sociais

Labirinto de Pensamentos Sociais


O mundo gira e eu me balanço no balanço da vida. Ela tem seus altos e baixos. Tudo o que sobe desce, mas nem tudo o que desce sobe. E a noite eu me sinto caindo no fundo de um oceano de lágrimas de sangue. E o amor agora, para mim é só uma onda de alegria que apagará a minha dor antes do findar da passagem pelo portal da morte.
A vida pra mim não possui, mas razão de ser. A solidão absorve lentamente toda a luz que eu tinha e emanava. A angústia que eu sinto remete-me ao eterno terror de um pesadelo. Um pesadelo real e vivenciado todos os dias. O vento da realidade traz todo o dia a imagem do coma social em que está imersa a humanidade. O mundo dá voltas, mas algumas coisas permanecem iguais. A sociedade vê e ouve, mas não pode falar.
E assim, como alucinados por esse eterno coma, alguns indivíduos matam para escapar. E alavancados por essa ilusão esquizofrênica acham que possuem o poder sobre outras vidas e que podem tirá-las de acordo com seus desejos pessoais. E desse modo matam, roubam e cometem outros crimes, assim o pesadelo cresce. E cada vez mais fundo a sociedade se afunda nesse esdrúxulo coma.
A sociedade assim, continua emudecida eternamente. Alguns involuntariamente, talvez até inconscientemente, mas outros parecem querer ignorar o fato de que a sociedade atual está desorientada e num beco sem saída!
E por enquanto, se ninguém tomar uma iniciativa , o mundo ficará assim. Em profundo coma social, mudo , ouvindo e vendo mas sem expressar opiniões ou reações. E eu vejo o sangue, a morte e a escuridão. Um caminho, o único caminho. A um a luz no seu fim , uma saída. Quem sabe hoje ou nos próximos dez anos , a humanidade possa, como um paciente em estado vegetativo, acordar?! Existe uma única, última esperança. O caminho é estreito , mas em seu fim: A eterna paz e liberdade. O mundo gira e eu me balanço no balanço da vida. Ela tem seus altos e baixos, mas para mim se tudo que sobe desce , tudo o que desce sobe. E se o mundo dá voltas , voltará ao seu estado normal.


By: Mylena Britto Perez ( 16/10/2007 23:10)

FIM

Fim

Amor, Sorrisos, Família.
Elementos de um final feliz?
Não sei.

Vento, Lágrimas, Penhasco.
Elementos de um final feliz?
Para alguns.

Para mim?
Quem sabe?
Solidão, Lágrimas, Noite.

Faca, Sangue, Morte.
Elementos de um final.
Feliz? Me diga você!



By: Mylena Britto Perez (13/10/2007 20:13 )

O Cacho de Flrores Amarelas

O Cacho de Flores Amarelas


Existem momentos em que a nossa alma parece indecisa, não é mesmo? Momentos em que nosso coração não consegue se decidir entre a alegria e a tristeza. Pois é, foi em um desses momentos que eu o vi. Tão doce e singelo. Lindo e recatado. Charmoso e sozinho, beleza solitária. Quem era ele? Ele não era ele, era isso! Um lindo cacho de flores amarelas. Mas por que essa minha paixão repentina (afinal eram apenas flores, nada anormal)? Não sei, talvez por sua beleza triste.
No horizonte apenas árvores, árvores verdes- escuras altas e de frondosas copas. Todas juntas num pequeno espaço (bem como os homens em nossa sociedade). Se faziam companhia, se ignoravam , se entreolhavam, saudavam-se. E como membros de uma estranha sociedade arbórea, eram iguais. Iguais na cor, no tamanho e na dor. Paravam igual , balançavam igual e o vento em suas folhas batia igual.
Mas sozinha, a esbanjar nobreza eu a vi. Tão alta e bela, tanto quanto as outras . Foi a esse ponto que algo me chamou a atenção. Algo... alguma coisa contrastava com o horizonte de intenso azul e com o verde das árvores . Então eu o vi, ou melhor, contemplei-o . Um lindo cacho de flores amarelas. Ao olhá-lo senti algo diferente . Mas por que? Não sei ao certo. Sua beleza não era exuberante, afinal não era um cacho muito grande. Mas algo naquelas flores amarelas traspassava as fronteiras do normal. Era algo que não sei explicar, um brilho divino, quase que sobrenatural!
Ah! Enfim entendi, a beleza não vinha do cacho em si, mas sim do fato que –como eu− era o diferente num contexto de iguais. Numa sociedade onde todos ouvem as mesmas coisas, comem as mesmas coisas , dizem e pensam as mesmas coisas, eu sou diferente. Eu ouço, como , digo e penso o que quero e o que eu aprovo de acordo com os meus conceitos pré-estabelecidos. Eu não me deixo levar pela opinião alheia , nem pelo que pensam a meu respeito. Eu sou diferente , assim também aquele cacho de flores amarelas , sozinho e diferente no meio de muitos iguais. Se de longe em meio a um horizonte de belezas naturais, eu notei a sua beleza , porque não pode o mundo notar a minha ? Apenas um cacho de flores amarelas, pequena mas enorme, simples mas complexo, banal e efêmero mas de presença e beleza eternas !

By: Mylena Britto Perez (21/09/2007)

sábado, 13 de outubro de 2007

Crônica sobre a sociedade? Não era bem a minha intenção!

Crônica sobre a sociedade? Não era bem a minha intenção!

Às vezes tudo o que precisamos é e um lugar tranqüilo, e não no bom sentido. Um lugar sozinho, um lugar isolado dentro de nós mesmos. Para onde podemos ir não importa onde estivermos um lugar perto que seja longe. Um lugar escuro que nos traga iluminação de pensamento. Um lugar sombrio, talvez vazio. Um lugar em nós para extravasar. Um lugar perfeito que nenhum ser humano há de achar!E naqueles momentos em que tudo parece distante, em que você parece estar de longe observando enquanto a sua vida passa sem que você sobre ela assuma controle, é nesses momentos que precisamos de um lugar assim. Um lugar seguro, ou melhor, um porto seguro. Um lugar inexistente (talvez apenas vivo em nossa fértil imaginação) onde podemos colocar os pensamentos em ordem e quem sabe prosseguir nosso caminho !
Quando nossa vida parece sem sentido, ou apenas quando temos aquela estranhíssima sensação de estarmos vivendo a vida de outra pessoa, e aí que precisamos parar para refletir para onde nossos atos estão nos levando. Talvez se prestássemos mais atenção ao que estamos fazendo e não nos preocupássemos tanto ao que vem depois poderíamos sentir a vida passando por nós. Como assim? Antigamente as pessoas reclamavam por estarem vivendo de memórias, vivendo do passado. Já hoje em dia, as pessoas vivem do futuro e se esquecem do presente. Num mundo no qual somos expostos a um altíssimo nível de novas informações a cada dia, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o que alcançarão no futuro do que com o que elas estão vivendo no presente. E assim os dias passam com a humanidade pensando no que pode fazer no futuro, a cada dia sua mente é bombardeada com novidades, então o que era futuro passa a ser passado. E o ciclo vicioso continua, em busca de alcançar um futuro inalcançável e para isso passando por cima de um presente ignorado e de um passado cada vez mais esquecido.
Os anos passam com as pessoas cada vez mais tangendo metas intangíveis, fazendo promessas incumpríveis, sonhando sonhos inconcretizáveis, e se esquecendo de viver suas vidas. Esquecendo de prestar atenção em cada momento. Por que cada momento é especial e único. Se não o prestarmos atenção ele passa, independente de termos ou não o vivido! Perda nossa! Por isso só queria alertar às pessoas que estão por aí “vivendo” enganadas. Posso até cometer erros, mas fico feliz de tê-los cometido e aprendido com eles. Ao menos sei que errei por que vivi plenamente .É, pois é ,o que começou como uma simples crônica sem razão de ser terminou como um importante alerta a sociedade atual . Que deve a começar por mim acordar desse coma social que tanto nos atormenta e começar a viver de verdade!!!

By: Mylena Britto Perez ( 13/10/2007 – 16:20 )

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Brisa

Brisa

Daqui de cima eu sinto a brisa
Brisa gelada que bate contra o meu corpo
Essa gelada funde-se com a brisa quente
Que aflora da minha alma

Queria mesmo é sentir o que sobra desse encontro das duas
Mas não é possível
Pois não sobra nada
O encontro dessas forças dá zero

Então, no momento isso é tudo o que eu quero
Não sentir nada
E daqui de cima, não me importo onde vou cair
Terra? Água? Ar?
Onde o destino quiser. Caio em qualquer lugar
Desde que longe daqui
Desde que me liberte dessa inércia

Não me importo se vou morrer no impacto
Ou se vou morrer antes dele
Contanto que eu morra e...
Em algum momento possa sentir esse nada
Quem embora monótono
Muito me agrada

Não quero morrer a noite
Quando ninguém me vê
E sim de dia
Com o esplendor da vida que eu nunca tive

O brilho do sol e frio da brisa
Eles chamam meu nome
Sim...
Atendo e pulo no infinito
Para a eternidade de uma insensível dor entorpecida



By : Mylena Britto Perez

A espera

A espera


E ela esperou pacientemente, durante toda a noite. Acreditou que ele viria, que dela se lembraria. E a noite foi ficando escura e gelada. E as árvores do vilarejo choraram sua alma velada. Os minutos aos poucos se passavam. Às vezes tão devagar, que o relógio parava. E o tempo passava mas ele não chegava. Enquanto o tempo passava, ela ficava cada vez mais preocupada. Precisava de notícias. Mas já era madrugada. E da sua casa, a luz era a única acesa. Naquele momento ninguém poderia dar-lhe a informação que precisava.E conforme a noite corria , corriam também lágrimas de seus olhos. E molhavam seu peito. E molhavam seu leito. Assim a noite passou, e em prantos, para ela o dia chegou. Acordou e olhou em volta .Ele não havia chegado. Nesse momento ela começa a duvidar que um dia ele vá chegar.Que tudo o que ela sempre quis irá se concretizar. Mas continua esperando pacientemente a chorar .
Mais um dia se passa e ela sozinha, sem amor,sem carinho, vivendo de solidão. Então à noite, enquanto os poucos se esvaía sua esperança, alguém bateu a porta. Um fio de saudade a chamou . E ela sentiu que pudesse ser ele . Apressou-se, arrumou-se e foi à porta. Ao abrir a porta deparou-se com uma estranha figura, que apenas lhe entregou uma carta e partiu. Ao ler a carta, lágrimas escorriam pelo seu rosto. Lágrimas de sangue , lágrimas de certeza. Ele estava morto. Dias se passaram como anos, e sozinha em seu quarto ela continuava parada , chorando na mesma posição. E assim permaneceu até o final da sua vida . Ignorando o que sabia e ainda esperando. Esperando por alguém que não voltaria. Esperando por alguém que nunca viria!





By: Mylena Britto Perez ( 06/08/2007 – 17:36)

Doce Pingar

Doce Pingar



Ouço algo. Um barulho. Surdo. Seco. Como um pingar. Adormeço. Desperto novamente. Por quê? Perturbado pelo barulho. Esse incessante pingar. Não um pingar limpo. Como o da água. Um pingar consistente. Quase coeso. Como algo mais viscoso. Talvez... Não... Mas sim, exatamente!Assusto-me com a descoberta. È um pingar de sangue. Talvez de um animal. Que é pendurado após o abate. Talvez de um ser humano. Culpado ou inocente? Vítima, sempre vítima. O pingar começa a cessar. Os pingos se dão mais separados . Posso quase... Não! Imagino seu gosto . Um gosto de sangue. Azedo. Amargo talvez. Como se escorresse de mim. Me sinto entorpecido. Quase como se desmaiado. Sem forças . Ao me mexer na cama, o pingar aumenta . Será que ? Será? Sim ! O sangue é meu. Escorre de meus pulsos. Agora me lembro . Meu plano é consumado. Me liberto da dor. Sinto um calafrio. Um último pingo sela aminha vida !


BY : Mylena Britto Perez

Nas nuvens

Nas Nuvens

Por que alguém escreveria uma crônica sobre as nuvens?! Não sei. Por que eu escrevi? Também não sei, mas alguma coisa nelas sempre me atraiu. Quando criança era − posso dizer com certeza− o fato de se parecerem com gigantescos algodões doces de coco. Não ria! SE fosse criança também te pareceria incrível a idéia de que pudessem existir pedaços gigantes de algodão doce de coco flutuando no céu. Bom , ma eu era apenas uma criança!
Quando adolescente − creio eu– que o que mais me intrigava nas nuvens era a sua natureza. Convenhamos não te parece maravilhoso o fato das nuvens serem enormes massas de vapor d’água pronto para se condensar? A mim parecia surreal! Ao olhar para elas era como se elas fossem precipitar a qualquer momento! Mas essa sede por seu conhecimento se foi junto com aquela mente sonhadora da adolescência.
Quando adulto o que mais me interessava sobre as nuvens é que ao olhá-las, elas se transformavam no que eu quisesse, até mesmo num gigante pedaço de algodão doce de coco flutuante (digo isso porque sabemos que todo adulto quer ser criança novamente). Mas para mim, as nuvens eram lembranças, poderiam ser o peixe que eu tinha ganhado quando criança ou um amigo de infância. Podiam ter cores e cheiros. E assim, minhas aliadas, as nuvens aliviavam o stress do meu dia-a-dia. Mas isso tudo também passou.
Agora o que mais me fascina nas nuvens é como quando eu olhava de baixo eram quase transparentes, mas hoje olhando por cima são tão densas (quase concretas) que escondem toda a dor e sofrimento do mundo lá em baixo. Por que alguém escreveria uma crônica sobre as nuvens? Eu não sei. Por que eu escrevi? Também não sei, mas algo nelas sempre me atraiu.





By: Mylena Britto Perez

Nós Dois

Nós dois

É você! É você que me acorda às duas da manhã. É a sua imagem que perturba o meu sono. Ah! E que doce perturbação. É com o seu beijo que sonho, com esse beijo nunca dado. È você a quem a minha mente me transporta quando eu me distraio. E a noite quando me deito, é o seu corpo que o meu quer abraçar. É só você e sempre será, assim como sou sempre eu e sempre seremos um. Não importa a distância, não importam as diferenças, seremos sempre e apenas nós dois!