quarta-feira, 13 de maio de 2009

Lamentação

Em ondas revoltas de lágrimas
O mar escorre em meu rosto
Memórias, estreitas, não passam, mas
Nos olhos é o mundo já posto

Feito estrelas no negro firmamento
Lembranças hoje brilham dobres e nuas
É o imaginário concreto, um pensamento
Me faz outra vez tocarem as mãos tuas

É o pingo de água da chuva
É a gota da lágrima minha
É o olho que pisca na noite
É a lua que brilha sozinha

“Olho por olho” quero vê-la sofrer
Chorar! É agora “dente por dente”,
De satisfação a lágrima do meu rosto escorrer
Irromper a vingança de paixão latente

Se fosse efêmera a luz desse inverso...
Que me cega para não mais ver-te
Mas é eterno, eterno; Eterno
O martírio de ver-te e não ter-te

Um nome, um rosto, um beijo
Quem dera hoje esquecê-los eu?
É esse cárcere de saudade e desejo
Esverdeando o azul do meu céu

No espírito a noite gelada
E na boca a palavra não lida
É o remorso da maldição pregada
Na morte, “morte pela vida”

É a dor de uma foto rasgada
Numa noite de sono perdida
Mas tua alma, num canto, largada
Há de sentir a dor da ferida

É o sonho apagado, esquecido
Ou o murmúrio do vinho bebido?
É teu olhar de pura trapaça
Que vem a mente e não passa

É o vinho que resta na taça...
Mas doce? Ah, a loucura que herdei !
É aboca que beijo uma farsa?
Pois não sei se vivi ou sonhei

É o sentido perdido
Do fogo apagado a chama
Sabotado, fingido
Do qual só restou-me o drama

Fosse ainda mais leve a memória tua
A levaria, de espírito pesado
Mas que carregues tu o teu fardo
E apague, na saída, o interruptor da lua

Mylena Perez

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