quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Verão

Hoje aprendi a amar
Revolto, dentro do teu olhar
Tudo o que faltava falar
Hoje me contou o mar

Brisa calma veio trazer
Vontade de algo novo fazer
Fez em meu peito crescer
O anseio por mais um prazer

Sol quente me fez sentir
Querer ter para onde ir
Correr, gritar, amar, fugir
Para ti, verão, não vou mentir

Onda que vem me molhar
Mensagem de amor trazer
Faz o meu verão voltar
Meu sol quente aparecer

Quem levou minha areia e meu mar?
Quem fez meu amor sumir?
Pro inverno eu não vou voltar
Com meu verão eu vou fugir


Mylena Perez

Poema

Um poema não é feito apenas de palávras
É feito de choro e também de riso
Escrever um poema é mais que ordená-las
É ter o dom de rimar lágrimas e sorrisos
É rimar o nunca e o sempre, o quente e o frio
É cantar o amor e o ódio sem cair em seus feitiços



Mylena Perez

Chamado

Idéias perdidas
Dispersas no ar
Idéias sem rumo
Livres a voar

Pensamentos sem destino
Flutuando ao luar
Com uma única missão
De vir me chamar

Me chamam pelo nome
Me chamam para dançar
Me chamam para ser livre
Para não ter medo de amar


Mylena Perez

Com o pé esquerdo

Há um dia fui a uma boate com alguns amigos e com meu primo após o trabalho. Acabei bebendo umas cervejas a mais e, bom, só me lembro de acordar em casa no dia seguinte sem minha gravata e com um bilhete no bolso. Era um guardanapo no qual estava escrito um telefone e o nome Júlia. Quem era Júlia? Meu primo estava praticamente desmaiado no sofá e tudo o que eu consegui que ele me dissesse foi, “Júlia lá da boate, não se lembra garanhão?” Como eu realmente não me lembrava achei que não havia sido nada de mais.
Faltavam apenas duas semanas para a minha viajem a Bariloche e eu havia passado meses juntando dinheiro para comprar meu primeiro par de esquis, então decidi ir à loja e comprar. Quando cheguei em casa meu primo já havia saído, e pelo jeito que ele havia deixado a cozinha imaginei que ele tivesse tentado fazer um das milagrosas curas para ressaca que habitam a mente do povo: o suco de tomate. Como o copo ainda estava cheio, imaginei que ele não sabia fazer e provavelmente bateu o tomate com sementes e tudo no liquidificador e ainda botou um temperinho para salada para dar um gostinho melhor. E pelas manchas no teto, que ele não deve ter encontrado a tampa do liquidificador e bateu tudo sem fechar, mandando a mistura direto do copo do aparelho para o teto recém-pintado do meu apartamento novo. Mas enquanto eu pensava num jeito mais simples do que provocar um tsunami de água sanitária para limpar aquela cozinha, que já tinha um dia sido branca, mas que agora mais parecia uma cena do filme “Suspiria” do Dario Argento de tão vermelha, algo aconteceu. O telefone tocou, e o diálogo a seguir dispensa explicações:

Eu (Gustavo): Alô?!
Júlia: Oi Tavinho, é Júlia.
(Eu pensei... “Tavinho”?! Ainda sem entender a gravidade da situação)
Eu: Oi Júlia, tudo bem?
Ela: Tudo, noooossa já faz um dia que agente... é... Achei que você fosse ligar antes.
Eu: Agente...?
Ela: Você não se lembra?
Eu: É claro que me lembro, eu ia te ligar agora sabe?
Ela: Ia? Agora?
Eu: Agorinha mesmo, na verdade eu estava com o telefone nas mãos para discar o seu número quando ele tocou.
Ela: É mesmo? Com o telefone nas mãos?
Eu: É.
Ela: Seu telefone é móvel, amor?
(Comecei a me preocupar nesse instante... amor?!)
Eu: Desculpa... o que?
Ela: Perguntei se o seu telefone é móvel!
Eu: Não. Por quê?
Ela: Por nada, é que se o seu telefone não fosse móvel, quando você o tirasse do gancho para discar meu número ele ficaria ocupado, e assim eu não poderia ter ligado para você. O seu telefone estaria ocupado para mim, e então não tocaria na sua casa. Você só tem uma linha , não é?
Eu: Só.
(Por nada “uma ova”)
Ela: E... Não tem nada para me dizer?
Eu: É que... Veja bem, eu ia te ligar, mas é que eu estou sem dinheiro ultimamente e não posso gastar com minha conta de telefone.
Ela: É mesmo?
Eu: É, não estou pagando contas, estou sem comer a dias, estão quase cortando minha luz e minha água e...
Ela: Você mente muito bem Tavinho, mas eu te vi hoje de manhã comprando um par de esquis numa loja no centro.
Eu: Esquis? Eu? Não, não comp...
Ela: Se você não comprou nada porque eu tenho uma nota fiscal de um par de esquis no seu nome? Ah! Por que depois que você saiu da loja eu entrei e peguei!
Eu: Ok, eu vou viajar para esquiar, mas eu não tenho que te dar explicação de nada. Eu nem me lembro de você, agente só passou a noite junto, eu estava bêbado e...
Ela: Porque você está mentindo para mim, e tudo o que nós temos juntos? E o nosso amor?A paixão? E o nosso futuro?
Eu: Que futuro? Agente nem se conhece.
(Comecei a me apavorar por que, lá pelo “nosso futuro”, a voz dela começou a ficar aguda e ela começou a chorar)
Ela: Não acredito, o único homem descente que eu conheço e...
Eu: Olha, eu adoraria ficar aqui te ouvindo falar, mas eu tenho que desligar porque eu ainda não consegui limpar a cozinha e eu vou sair para almoçar numa lanchonete, então..
Ela: É claro... é claro que eu quero ir almoçar com você numa lanchonete! Ahh! Que lindo, superamos nossa primeira briga.
Eu: Não, eu n...
Ela: Isso é mais um passo no nosso relacionamento. Quer saber? Eu passo aí na sua casa, te ajudo a limpar a cozinha e faço uma comidinha deliciosa para nós dois. Não precisa me buscar aqui não, eu já estou indo!
Eu: Mas eu não n...

Ela desligou telefone sem nem me esperar terminar a frase. Alguns minutos depois Júlia apareceu lá em casa, conseguiu limpar a cozinha toda em quinze minutos e fez um delicioso ensopado. Nós conversamos a noite toda e eu percebi que queria que aquela mulher louca que me manipulou tão bem pelo telefone me “manipulasse” para o resto da minha vida. Já se passou um ano desde essa história e ainda estamos juntos, Júlia me fez perceber que às vezes “não faz mal descer da cama de manhã com o pé esquerdo se for para dar o primeiro passo com o direito”. E foi assim que a minha “one night stand” se transformou numa “one life stand” !

Mylena Perez

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Versinho de Bolso

Poesia é lágrima da alma
Chuva que rega o coração
Poeta é nuvem se sentimento
De dor, paixão e ilusão

Mylena Perez

Ciclo de Poesia

A vida é suja
A vida cospe
O poeta sangra
A lágrima escorre
O poeta canta
O coração sofre
A poesia grita
É ouvida ao longe
Uma vida muda
Novamente chove
A lama suja
O que a vida cospe
O poeta sangra
A lágrima escorre
O poeta canta
O coração sofre

Mylena Perez

Estática

Correndo rápido
Sem sair do lugar
De trás para frente
Num ser/estar
Num infinito be, just being
Correndo, sem olhar para trás
Num pós-começo
Num pré-final
Num meio-termo cardinal


Mylena Perez

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Caminhada

Cresço
Forte como concreto
Frágil como uma flor
Doce como um morango
Suportando toda dor

Bato no peito
Um coração atende
Angustiado
Sem saber porque
Abandonado
Sem saber por quem
Seguindo, sempre,
Sem saber para onde


Mylena Perez

NoTuRnA

Quem me chama agora?
Quem pode ser a essa hora?
Acordo sozinha.
É escura e triste a noite.
Ah! És tu poesia!
Me deleito em teu açoite!

Mylena Perez

Noite de Poeta

Que fiz eu para merecer
A ti, noturna visitante?
Que faz meu corpo estremecer
Com tua dor, eterna e constante

Pois há uma faísca em teu olhar
Quando miras-me andar cambaleante
Que se estou cansado, se não agüento gritar
Desenha-se um sorriso em teu semblante

Será esse o mal do século,
A doença da alma inconstante?
Esse desejo estranho, chulo,
Essa vontade de sofrer pedante?

És conhecida dos grandes poetas,
Suicidas, mal amados e navegantes
És feita de emoções incompletas
Foste, de Byron, musa errante

Sob a luz do luar
Sedutora, és tu, desconcertante
Meu espírito a aprisionar
Com teu charme prestante

Que, em meu peito, encerra a certeza
De possuir, da palavra, o dom intrigante
Que em meus lábios pinta a beleza
Para poder cantar meu ser fascinante

Tu és melancolia tosca
Tua extrema força, alarmante
Fazendo a luz no fim do túnel fosca
Fazendo a vida irrelevante


Mylena Perez

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fim de Noite

Mandaram escrever um samba
Para alegrar um pouco a praça
Inspiração fugiu, amor
E o papel voou sem graça

A garganta secou
Não tem mais água na taça
A festa terminou, senhor
Não importa o que eu faça

Já a lua se escondeu
Foi beber sua cachaça
Meu violão sumiu, já vou
Vou curtir minha desgraça

Mylena Perez

Manhã de Saudade

Na areia da praia
Muitos grãos de verdade
Se a música pára
Só fica saudade

Da terra mais linda
De um povo fiel
Da morte, da vida
Do azul do meu céu
Da minha pátria querida
E até do gosto do fel
Da minha vida sofrida
Que desapareceu

Na areia da praia
Muitos grãos de sudade
Se a música pára
Eu perco a verdade


Mylena Perez

Amigo

Amizade, para mim, era só um passatempo
Ter alguém para conversar quando tudo passa lento
Depois de te conhecer, o sentido da amizade entendo
Querer passar cada segundo com alguém, todo dia, todo tempo

Mylena Perez

Aviso

Pela última vez
Meus poemas não são para ninguém
Não...Nenhum joão, Maria, nem Sônia
Escrevo para mim, que é só quem merece ler
Apenas compartilho com vocês minha insônia
Por isso, se algum verso rebelde não se fizer entender
Se alguma rima não soar como deve ser
Não ria, não ria de mim amigo
Se fazer poesia fosse fácil
Eu nãofaria tanta cerimônia


Mylena Perez

Saudade

Amargo é o gosto
É gosto de sangue
É gosto distante
Que nem se sente mais

É o gosto salgado
Da lágrima seca
Do grito não dado
Que não se apaga mais

É vento que voa perdido
É faísca que ainda arde
Desse sabor esquecido

É doce de tão azedo
É remorso inconsciente
De ter acabado cedo

Mylena Perez

Heil Gilberto


Já se passaram dois dias e ainda não acredito realmente que Gilberto tenha morrido. Recebi, na sexta-feira pela manhã, um telefonema da ex- mulher dele, comunicando sua morte e, desde então tenho tido flashbacks perturbadores dos momentos que passamos juntos. Nunca fomos muito unidos, eu e Gilberto, em boa parte devido à sua personalidade, com o perdão do eufemismo, “peculiar”. Mas dos poucos momentos que dividimos tenho ótimas recordações.
Gilberto sempre foi muito “diferente”, estudamos juntos boa parte da adolescência e também da juventude .Eu me lembro muito bem da primeira vez que o vi , seus pais haviam se mudado para a cidade e ele não havia feito amizades muito rápido. Eu nunca havia prestado muita atenção nele até que, na oitava série, durante um debate sobre as verdadeiras causas da segunda guerra mundial, Gilberto defendeu seus argumentos perante a turma com citações, em alemão, de um dos discursos de Hitler.
Na faculdade as coisas não foram muito diferentes. Ele tinha um modo único de defender suas opiniões e valores que, combinado com a sua coragem e com seu dom de “meter o nariz onde não era chamado” poderia até mesmo, sem muito esforço, convencer Isaac Newton a fazer uma deliciosa torta de maça com canela com a maça que lhe acertou a cabeça ao invés de formular a teoria da gravitação dos corpos.
Encontrar uma mulher não foi muito fácil para ele. Gilberto insistia em dizer que a mulher ideal para ele não deveria apenas saber cozinhar, limpar e passar suas calças conservando aquele estúpido vinco que ele tanto prezava, mas deveria também ser capaz de resolver equações de cálculos diferenciais, além de ter que saber dar um nó em um cabinho de cereja usando apenas a língua, qualidade essa que, segundo ele, somente as mulheres mais especiais possuíam. Era de se imaginar que ele nunca fosse encontrar esse raríssimo espécime feminino, mas Gilberto sempre conseguia o que queria e assim, conheceu Suzana.
Suzana lecionava cálculo numa universidade local e logo que conheceu Gilberto se apaixonou completamente. Dois meses depois de começarem a sair e depois de uma análise profunda da personalidade de Suzana feita por inúmeros psiquiatras amigos de Gilberto, ele a pediu em casamento. Suzana, apesar de não esconder o quanto as tendências neo-nazistas de seu futuro marido a preocupavam, aceitou o pedido e eles se casaram semanas depois, no civil apenas, pois Gilberto considerava todo e qualquer tipo de festa um abominável desperdício de dinheiro. Infelizmente, o casamento terminou em menos de três anos, quando Suzana, após dar a luz a um saudável par de meninos gêmeos, acordou pela manhã no hospital e descobriu que o seu amado marido os havia nomeado Adolf e Pétain de Souza.
Gilberto nunca se casou, nem sequer teve uma namorada após o divórcio e, embora fosse óbvio para todos que ele estava sofrendo muito, nunca admitiu. Após o enterro, eu arrombei a porta do quarto onde ele costumava dormir e roubei seu diário, ele escrevia diários desde os quinze nos, e eu achei que aquilo poderia me esclarecer muitas coisas sobre ele. Mas os diários, que faziam menos sentido que o que o próprio Gilberto dizia, apenas provaram que o orgulho fora a causa de sua morte. Um dia, pego chorando, havia afirmado ter um problema nos olhos e precisava de um laudo médico que validasse sua mentira. Era período de eleições e, ironicamente, Gilberto foi atropelado por um carro de som que tocava a propaganda política de um certo “partido socialista democrático” quando atravessava a rua para a sua consulta com o oftalmologista.

Mylena Perez

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

MARATONA

Um homem de aparentes quarenta anos, alto e de cabelos castanhos sai do cinema com uma expressão perturbadora. Já passa das onze da noite e a cidade está toda iluminada. Pessoas vão de um lado para o outro e, apesar da tão falada crise econômica, gastam seu dinheiro em lojas, boates e drogas como se não tivessem muito tempo de vida. Ele vai direto para casa, liga a televisão mas não dorme.
No dia seguinte ele vai ao trabalho, todos reparam nas suas olheiras profundas , mas ninguém ousa comentar com ele. Ele almoça olhando o relógio, termina o trabalho e volta para casa caminhando. Há um acidente em uma rua adjecente e ele perde muito tempo. Ele começa a ficar nervoso, a suar muito, seu rosto está vermelho e ele começa a correr. Seu celular toca, ele atende:

-Alô? Quem fala?
-É uma amiga da Julietta, ela me deu seu telefone, disse que talvez você topasse sair comigo hoje de noite.
-Não, eu agradeço a oferta , mas tenho algo muito importante para fazer hoje e já estou atrasado. -Ahh! Vai me dispensar assim?
-Assim? Assim como?
-Desse jeito.
-Eu ia, mas se você prefere outro jeito... Bom, não é você, sou eu...tenho um compromisso e você é uma mulher inteligente, tem homem mehor para você, me parece que...
-Fique quieto...nenhuma amizade vale tudo isso... sorte para a Julietta, vai ser muuuuuuuuuuuuito difícil encontrar uma mulher para você.(desliga na cara dele)

Ele guarda o celular como se nada tivesse acontecido, mas quando olha para o relógio, já são oito e quarenta e cinco.O suor começa denovo, ele corre o máximo que pode em direção a sua casa. No caminho uma senhora é derrubada por ele, ele ainda anda alguns metros,mas sua consciência não ajuda, ele tem de voltar atrás. Ele volta, levanta a senhora, pede desculpas, passa uns cinco minutos ouvindo a mulher reclamar sobre como ele não olha por onde anda e etc... Enquanto a senhora fala ele não realmente presta atenção. Ele olha bem para o rosto dela , ela tem os cabelos brancos, é magra, tem a pele branca e enrugada e olhinhos azuis bem apagados. Ela parece alguém que ele conhece , mas ele não consegue se lembrar, ele se esforça. Seria alguém do trabalho? Alguém que ele viu na rua? Alguém da família? Mas ele não tem muito tempo , a mulher termina a bronca, bate nele com a bolsa e sai.
Todo esse esforço para se lembrar de onde ele conhecia a mulher o fez esquecer do atraso. Ele olha o relógio, Oh my God, já eram oito e cinquenta e cinco e ainda falatavam duas quadras para chegar em casa. Ele corre o mais rápido que pode, mas ainda há uma rua a ser atravessada e há tantos carros passando que ele tem que esperar. Assim que o sinal fecha ele corre, corre por entre alguns carros, pula por cima de outros, empurra pessoas, mas não olha para trás nem uma vez. Só falta uma rua, ele tropeça, há sangue pingando de seus joelhos, mas ele se levanta e continua correndo. Para ele, chegar em casa é uma questão de vida ou morte.
Ele já pode ver o telhado de sua casa, é um alívio. Uma última olhada no relógio revela o meio minuto que falta para as nove horas da noite.Ele entra em casa, fecha a porta, senta no sofá, liga a televisão e... Um último arrepio percorre seu corpo quando ele olha para a televisão. Ainda não havia começado a maratona de Francis F. Copola, era o dia de "O Poderoso Chefão I, II e II" que ele havia esperado tanto. Durante aquela noite o telefone tocou algumas vezes, muitas eram ligações de amigos que o haviam visto pular por cima de carros nas rua, mas ele não atendeu. E pensar que ele poderia ter se atrasado !



Mylena Perez