domingo, 6 de abril de 2008

Pôr do sol

O sol começava a se pôr e a mulher esperava a hora de buscar os filhos na escola. Era um fim de tarde calmo e quieto, além disso, do décimo terceiro andar de um prédio −onde ela morava− não era mesmo possível ouvir os mínimos barulhos da cidade. O marido, sentado à mesa, lia pacientemente cada página do jornal do dia, e a mulher resolveu ir para perto da janela.
Talvez fosse algo particular daquele fim de tarde, ou talvez fosse apenas a sua imaginação, mas a mente da mulher começou a divagar, e aos poucos ela se distanciava cada vez mais do apartamento. A cidade parecia tão triste lá em baixo, o colorido se perdia em meio ao concreto. Os tons melancólicos de cinza reinavam soberanos, verde só havia mesmo na pintura de algumas casas. A fumaça dos carros tornava tudo denso e confuso.
Agora o sol de fato se punha e de repente um tom castanho-alaranjado invadiu o cenário. A cor refletiu nos alumínios das janelas e coloriu a fumaça. Pequenas casas brancas tornaram-se amarronzadas, feixes de sol dourado brilhavam nos carros. O verde das casinhas tornara-se mais intenso e agora contrastava fortemente com o vermelho dos aterros ao longe. O dourado do sol tornou-se vermelho, laranja, marrom e bem devagar se dispersou num azul celeste que acabava de surgir no horizonte. As cores vibrantes foram se suavizando e o sol se pôs totalmente. Um azul marinho tomava a cena quando subitamente a mulher foi jogada de volta à realidade pela grossa voz do marido que perguntava as horas.
Ao olhar de volta para a janela o melancólico cinza havia voltado, a fumaça embaçava o céu novamente e as cores eram mais uma vez reféns do concreto. A mulher olhou o relógio, já era tarde e a aula das crianças já havia terminado há algum tempo. Ela estava atrasada, pegou as chaves e saiu de casa. O marido achou estar frio e fechou a janela. Em que página do jornal ele estava mesmo?!

Mylena Perez

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